Praça 9 de Abril, Famalicão
(Antigo Terreiro da Mota, Praça da Mota e Praça Conde S. Cosme do Vale, em meados do século XX, Vila Nova de Famalicão)
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143.
SER POR UM DIA
Coimbra, quinta-feira,
17 de Setembro de 2020
(I)
(Ser por um dia um ele próspero
Alguém de quem pudesse dizer-se
– Não é como eu. –)
II
Da famalicense Praça 9 de Abril à venezuelana localidade de Puerto La Cruz, muitas milhas marítimas de distância não obstam ao crime. O que é criminoso, humano exclusivo é. Isto não tem volta a dar-se-lhe. Nem cor. É capciosa ingenuidade crer que não seja bem assim. Indifere qualquer geografia, desde que humana.
Tenebrosa Glasgow. Imunda Marseille. Subúrbios incuráveis de metrópoles sem remédio. O planeta a saque, glória norvégica à pestífera ratazana-bípede.
Em sua superior sabença, o luso povo d’antigamente dava por remediado o irremediável – precisamente por não ter remédio. Assim, frequento rincões menos populosos – o que Coimbra ainda permite. Noutro plano (mas no mesmo intuito), resguardo-me da violência falsamente mansa de gentalha autobeatificada: Coimbra, Famalicão, Puerto La Cruz, Glasgow & Marseille esvaziam-se a bem da minha nação.
III
É ainda templo, perdão, tempo de florescer algum fruto
Não ceder à inércia, colher do aparente ócio a férrea rosa
A tristura é condição mas mata só quem se lh’abandona
Refiro-me a uma força contemporânea do respirar mesmo
É de outro modo inútil chamar-me a mim homem ou a Vós pessoas.
IV
Não frequento arcádias que aliás nem há.
Vim para ver a bola mas nunca mais é sábado.
Até que a vaca tussa, estou feito ao bife.
Queimado em efígie, relaxo-me ao século.
Assim zarastustramos falas para surdos.
Carne-p’a-canhão não falte na grelha.
Turcos são bichos matadores de curdos.
E a Brigada Azul usa Estrela Vermelha.
Escoro com livralhada o alude real.
Não serve de escapa – serve de afronta.
Não darão meus burros em água
(muito menos em essa de bacalhau pelas barbas).
Fala um pouco comigo – e logo vês quem te ouve.
A minha pequenez é humana, não é da pessoa.
Também eu, como tu, padeço de brevidade.
Custa-me mais embora ter nascido do que morrer.
Tertúlias? Não frequento. Aliás nem me as hei buscado.
Conheço meia-dúzia (não mais) de interessados.
Em quê? Na Língua Portuguesa – Sua Majestade.
Mais, não. Faladores, muitos: de papagaio cariz.
Ó seu malandro rompedor de hímenes!
Seu Anaximandro ou, pior, Anaxímenes!
Fala tu calado, escuta tu absorto:
nasces para ensurdecer, aprendes a ouvir em morto.
(...)
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