Falemos um pouco ’inda desses domingos antigos
Quando moços casais pontuavam o parque fluvial
E o ar se azulava lavadamente sobre as casas brancas
Quando moços casais pontuavam o parque fluvial
E o ar se azulava lavadamente sobre as casas brancas
132.
FALEMOS UM POUCO ’INDA
Coimbra, quarta-feira,
2 de Setembro de 2020
I
Peregrina-se mesmo sem se sair do chão sob os pés.
Até que a hora chega & soa de ser-se chão.
A vida arterial é de uma autoridade sozinha.
Há que limpar o próprio canto, ilusão nenhuma.
Essência-existência-r/existência – único jogo.
A impureza é? Modos há com que lixiviá-la.
Ruínas – umas nobres, outras recém-edificadas.
As aves sim permanecem superiormente.
Lá fora, ética, estética, remediação & curação?
Precária, encontrável, precária, improvável.
Resta peregrinar em consistente persistência.
Este condado ainda o franqueia com pertinência.
II
Procurei & encontrei ontem, nesta casa mesma,
palavras & fraseados de diversa validação.
Um homem da Arrábida purificou referências.
Um homem de Lisboa sobrepassou seu passado.
Outros foram apenas imitações-de-home’zinhos.
Todos enfim vão fazendo por suas vidas.
Alguns, é verdade, já não; morreram, são papel.
Sentado neste leito mesmo, li sem sobressalto.
Sei mais hoje do que anteontem.
Ou seja: tenho mais que, para & por esquecer.
III
Hoje desprezo mais calmamente o que é de.
Para alguma coisa leio bem, enfim.
Amo com pontaria o que nem amor pede.
Onde fica a pedreira, imagino o jardim.
As novas religiões são afinal velhas.
Não são antigas – são velhas.
Não são vetustas – são velhas.
Não são claras mas adustas.
Os rebanhos comportamentais são pindéricos.
Pugnam, sem nada saber, pela d-existência.
Jovens de idade embora, são de roxos cadavéricos.
Não lhes dou sequer minuto de paci’audi’ência.
(IV)
(Amanhã é dia de visitar o meu Irmão Zé.
Hora de fazer chegar-lhe, na doença, presença.
Estamos ambos em nosso milénio sem fé.
Do que se sente, parece, vem o que se pensa.)
V
Falemos um pouco ’inda desses domingos antigos
Quando moços casais pontuavam o parque fluvial
E o ar se azulava lavadamente sobre as casas brancas
Não te parece que o devamos fazer hoje ’inda?
Fá-lo-ei a sós pois, não há que forçar-te o modo
Era em domingo recente de si mesmo
Era à beira-rio, subiam no parque os plátanos
E a cor da tarde não ameaçava, pintava só
É claro que tu & eu nenhum de tais casais somos
Posto que ao porvir inabitável teimas habitar
Prossigamos a sós portanto um sem uma
Quando o barco-mensageiro aporta ao pequeno cais
E quem gosta de barcos logo se achega a mirar
É indecisa, inefável até, a estação d’então
Talvez meã primavera, talvez incipiente outono
Estio não é ’inda ou já, nem invernosa sazão
Não podiam então mais as máquinas do que a grei
Nem o analfabetismo era tão diplomado
Nem os animais eram tido por excedentes
Sem comentários:
Enviar um comentário