Peter Falk aos três anos
23.9.2019
Segunda-feira
Corpo de afogado devolvida à costa pela maré. De homem ou de mulher, pouco nada importa, pois que se repetem, como a própria maré, o perpétuo afogamento, o naufrágio perene. Talvez em 1971, uma década antes talvez, sete anos depois – e depois?
26.9.2019
Quinta-feira
Cada um de si mesmo traz ausência,
presença é fortuna aleatória.
Um travo de amargura dá cadência,
cadência d’arritmia de memória.
(...)
5.10.2019 + 6.10.2019
Sábado + Domingo
Elementos povoadores da Cidade, ocupantes dela aos clarões, ou espasmos, ou fulgurações, ou (re)lances.
Além, o pinheiro-manso povoando a verd’escuro a diafaneidade da hora total, a hora azul dando de branco no amarelo da casa mais antiga.
Quatro mulheres, com outras tantas garrafas d’água, à mesa encarnada da esplanada. O toldo publicitário drapeja ao de leve a incursão de brisa oblíqua.
Carros lentos preguiçosamente cumprindo a via, epifania hílare de uma carroça com ciganos encavalitados nela, lentidão maior ainda da viatura policial rondando o Nada da existência.
15.10.2019
Terça-feira
Umas (as mais) vezes, esqueleto. Outras, borboleta.
Trato, retrato, menos & menos me retracto.
Algumas lojas de chineses. A lusa? Obsoleta.
A duração torna-nos (ó manos!) diferentes.
E depois (ist’é: agora) indiferentes.
Assim seja, com ou sem cerveja.
*
O quarentão maciço de ventas flácidas
raspa a raspadinha de dez euros
& solta palavras não já tão lúcidas
como as sem labirinto dos minotauros.
*
Um vento acossa & caç’ainda a minha porta,
lobas parturientes rosnam carinhos,
Germano separa-se de ex-sua Alberta,
morrer reduz a zero os tamanhos.
Vi o homem d’olh’azul ser medìocrezito,
nem pena dele eu tive, sou doutras horas.
A senhora arrote, olhe seu flato.
Sou doutro calendário, doutras eras.
(...)
Sá-da-Bandeira-doçura-p’la-Coimbra,
suave é a luz do desce-caminho,
o Sol é fraco – e frac’ a minha sombra,
sei p’r’onde vou & sei já d’onde venho.
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