13/11/2020

VinteVinte - 114 (conclusão dos derradeiros excertos soltos do ano passado)


Peter Falk aos três anos




23.9.2019
Segunda-feira 

    Corpo de afogado devolvida à costa pela maré. De homem ou de mulher, pouco nada importa, pois que se repetem, como a própria maré, o perpétuo afogamento, o naufrágio perene. Talvez em 1971, uma década antes talvez, sete anos depois – e depois? 

26.9.2019 
Quinta-feira 

Cada um de si mesmo traz ausência, 
presença é fortuna aleatória. 
Um travo de amargura dá cadência, 
cadência d’arritmia de memória. 

(...)

5.10.2019 + 6.10.2019 
Sábado + Domingo 

    Elementos povoadores da Cidade, ocupantes dela aos clarões, ou espasmos, ou fulgurações, ou (re)lances. 

    Além, o pinheiro-manso povoando a verd’escuro a diafaneidade da hora total, a hora azul dando de branco no amarelo da casa mais antiga. 

    Quatro mulheres, com outras tantas garrafas d’água, à mesa encarnada da esplanada. O toldo publicitário drapeja ao de leve a incursão de brisa oblíqua. 

    Carros lentos preguiçosamente cumprindo a via, epifania hílare de uma carroça com ciganos encavalitados nela, lentidão maior ainda da viatura policial rondando o Nada da existência. 

15.10.2019 
Terça-feira 

Umas (as mais) vezes, esqueleto. Outras, borboleta. 
Trato, retrato, menos & menos me retracto. 
Algumas lojas de chineses. A lusa? Obsoleta. 

A duração torna-nos (ó manos!) diferentes. 
E depois (ist’é: agora) indiferentes. 
Assim seja, com ou sem cerveja. 

* 

O quarentão maciço de ventas flácidas 
raspa a raspadinha de dez euros 
& solta palavras não já tão lúcidas 
como as sem labirinto dos minotauros. 

* 

Um vento acossa & caç’ainda a minha porta, 
lobas parturientes rosnam carinhos, 
Germano separa-se de ex-sua Alberta, 
morrer reduz a zero os tamanhos. 

Vi o homem d’olh’azul ser medìocrezito, 
nem pena dele eu tive, sou doutras horas. 
A senhora arrote, olhe seu flato. 
Sou doutro calendário, doutras eras. 

(...)

Sá-da-Bandeira-doçura-p’la-Coimbra, 
suave é a luz do desce-caminho, 
o Sol é fraco – e frac’ a minha sombra, 
sei p’r’onde vou & sei já d’onde venho.

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Canzoada Assaltante