135.
DOMINGOS, INC.
Coimbra, domingo, 6 de
Setembro de 2020
(I)
(Fiz hoje a releitura de um livro delicioso & português: Lisboa em Camisa, de Gervásio Lobato. Em Maio de 1998 o lera pela vez-prima. Sorri muito, chegando mesmo a rir. Bem precisado de comoções mais ligeiras. Fez-me bem.)
II
Mormente nesta última década, tenho visto assaz homens assaz queimados – um deles, ao meu próprio espelho.
Ontem, na Rua do Padrão, través a luz sufocante da tardem ao calor intransigente da hora, um dos dessa galeria passou-me defronte. Era de sofrimento tão tinto quão o negro do seu bigode sem pente nem tesoura. Entrou na casa-de-pasto, não sei que bebeu. Demorou-se pouco, decerto só trouxera uma moeda. Já o reconheço há pelo menos cinco anos. Vive sem outro tecto que o da vida-rápida. Ele há mais como ele na zona. São um gado sorumbático, desprovidos da mais pastoral tutoria. Esperança, não gastam – que aliás mais os desgastaria. Sinto parentesco, por condição, para com eles. Eles são mais pobres: nem de literatura dispõem com que finjam estar tudo quase bem, muito obrigado.
III
Pois, foi domingo.
É dia em que vacuidade & vanidade mais cintilam.
O poente é laranja torrada, bonito & banal, convencional, postal.
A rua há muito é deserta de crianças.
Os velhos estão encerrados nas gaiolas.
Não-história, tropel de não-assuntos.
Valem os livros.
Não é mentira: valem-nos os livros.
Domingos incluídos.
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