111.
AO MENOS-MAIS
Coimbra, quinta-feira,
30 de Julho de 2020
Guilherme levou avante a existência sem mores ondas do que as que são de esperar em praia enxuta. Atingiu os anos que tornam relativa até a natural indiferença pelas ilusões dos tempos mais verdes. Pecou versos, que o não incharam nem esvaziaram – retrataram-no um pouco, é tudo.
Vaguei da atenção meus lixos velhos
Façanha simples cumpri lendo inteira
Cada lápide limpa a cegos olhos.
Frivolidade & esplendor irmanam-se avemente.
Infortúnio & indiferença atiram-se ponte.
Pés fatigados adentram água corrente na foz.
Arejar a lucidez não é só discorrer cortinas.
Li nomes singulares que o fim colectivizou.
O mesmo ano multiplicado em vidas acabadas.
Restos petrificando-se a céu aberto em livro.
Em livro que ainda leio escrevendo o meu.
Enquanto me não levarem, levo-me eu a mim.
Não é a glória & não é a desgraça, é como deve.
Também Guilherme é hoje duas-datas.
Interessa-me isso sem grandes ingentes ondas.
Depois como antes, Júlio & os manos Osvaldo, que eram Pepe & Ramón. Ecos incipientes os irmanavam na precocidade. Cumpriam talvez a incônscia ligadura de geração-antanho a manada-seguinte. Alguma terra lameira foi asfaltadas, não toda porém. Desmacadamizar é função da atenção memorial.
Luz alta em vidraças alpinas.
Sossego do bairro há cinquenta anos.
De Belgrano? De Belgravia? O mesmo dá.
Rama arbórea refresca trajectos sentados.
História transparente dessas aves incontáveis.
Incontáveis – mas contá-las, fá-lo Júlio.
E com Pepe o faz, e com Ramón o guarda.
Rua simples, ainda por destruir.
Fulgor instantâneo da pátria, ora pétrea, idade.
Tudo dado – nada gratuito embora.
Gracioso difere de gratuito.
A luz dando (n)o entendimento.
Escusado esperar o que chegará sem freio.
Ganhar tempo livresco, por mais pueril.
Lameira alcatroada, início dos óbitos.
Estrangeiro paulatino do próprio crescimento.
Como ratos, as primeiras leituras.
Fundação & afundamento. Rumo & muro.
Zoofilia & misantropia. Face & ceifa.
Signo & cisne. Lápis & papel.
Via finita mas indefessa persistência.
Ao menos isso: persis’exis’tência.
Isso ao menos como sinal-mais.
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