© John Singer Sargent
– Lady Agnew of Lochnaw (1892-93) –
Souto, Casa, manhã de 13 de Janeiro de 2010
Uma espécie de força obstina-se dentro viva a favor de si mesma.
A duração do corpo é um assunto interessante, a avaliar pelas salas-de-espera.
Quando vemos, filmada, gente que já dobrou o cabo, que vemos?
Pinturas vivas embalsamadas pela electricidade, isso sim, são.
Neville Chamberlain, por exemplo.
Neville Chamberlain teve por secretário particular um senhor chamado J. R. Colville.
J. R. Colville foi depois, mutatis mutandis, secretário particular de Winston Churchill.
O tempo estende estuário e então é filme: de Chamberlain e de Churchill, sabemos terem dobrado o cabo, de Colville ainda não estudámos o suficiente.
Uma família inglesa muito conhecida é a Killed In Action.
Alguns elementos dela?
Temo-los sim, senhores.
Uns da Royal Air Force.
Outros – de outros voos:
Charles Lee Steere – killed – shot into the sea.
Archie Hope – shot down.
Gerald Cuthbert – killed.
Michael Doulton – killed.
Billy Fiske – killed.
Freddie Mercury – too much love killed him.
Mas uma espécie de força bate e rebate a partir de dentro ante o espectáculo, que tem de continuar e continua, do mundo vivo.
Admiráveis testemunhos disso nos dão conta instantânea, a todo o instante, todo o dia de todos os dias, décadas, séculos a fio.
Archie, Gerald etc..
“You get used to it. You can get used to anything.” – disse um dos londrinos sobreviventes aos raids do Blitz nazi que se abateu sobre Londres (e sobre Manchester, Coventry, Birmingham, Swansea, Liverpool e muitos outros sítios) em 1940.
Resquícios da Grande Beleza Mundial, porém, resistem entre fumegantes destroços, restos de bombardeamentos, bocaditos de gente espalhados pelo chão, sabemo-lo.
John Singer Sargent fez pela vida, capturando-a sem capitulação possível.
Ele capturou Lady Agnew of Lochnaw.
Na mitografia ocidental dos nossos anos, temos gente que se perdeu e se encontrou, por exemplo o Ian Curtis dos Warsaw/Joy Division: killed in action, também ele.
Adelino Veiga era um operário pobre de Coimbra, mas não um pobre operário.
Ele há diferenças.
Janeiro de 2010, sismo no Haiti: morreram pessoas, morreram casas, morreram árvores, cães morreram.
Resquícios da Grande Beleza Mundial, porém, resistem entre fumegantes destroços etc..
A esperança é uma acção, para alguns.
Não é ficar à espera.
Para alguns, a esperança é uma acção.
Para alguns, a esperança é uma espécie de força.
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