07/01/2010

Por cá, Névoa Matinal, mas Aguaceiros a Sul

Pombal, manhã de 7 de Janeiro de 2010











Esta manhã, o mundo nasceu sitiado pela névoa, de modo que os vivos me surgem mais sombrios que de costume. Os olhos são quem tem de abrir caminho no mundo, como de costume, mas hoje mais. Pátina húmida reveste a face do casario. As árvores pingam como narizes frios. Na rua, entre os demais madrugadores, quase não suporto a felicidade. Manchas de não-cor negrejam na densidade. Carros de olhos piscos devassam a massa atmosférica. A estação de serviço é de um ouro alaranjado na distância. Camiões abruptos rosnam velocímetros. Gás e respiração fundem-se na textura enregelada. Procuro um estabelecimento de café, que encontro ao virar da página ao virar da esquina. Há corpos, há tabaco. Um receptor de rádio murmura entre ponche e anis sobre tábua de vidro. Um corpo de homem grisalho ingere bolacha torrada. Veste casaco e cachecol castanhos, calças creme, sapatos castanhos, camisa pérola. É uma figura de agradável silêncio. A circunspecção aura-o de uma espécie de bonomia indiferente. Possibilidade e ausência são ambas névoa. São crepúsculo ambas. Chávena quente de café-com-leite, quatro comprimidos matinais, tocha de cigarro olimpificando o perfil. Silêncio no mundo sitiado, este estabelecimento de café silencioso, os corpos calados, as sombrias pessoas tão sulistas por dentro.




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Canzoada Assaltante