05/01/2010

Nada com Ninguém


© Henri-Cartier Bresson - Cardeal Pacelli em Paris (1938)



Souto, Casa, tarde de 5 de Janeiro de 2010




Uma coisa que sempre me fez muita impressão
e ainda faz
é as pessoas escreverem e mostrarem a toda a gente
poemas de amor por e para outras pessoas
como se tivéssemos alguma coisa
a ver com isso
se copularam ou querem copular
chegam a encher avenidas por causa disso
avenidas à hora dos telejornais com a sexualidade a tiracolo
como se tivessem uma jibóia enrolada no pescoço ou bócio
e fosse precisar mostrar a toda a gente a jibóia do bócio
raios partam tanta tiróide desencabrestada
chamam-lhe amor ainda por cima à petição de lei civil
amor e genitais tudo a monte
sempre me foi coisa de muita impressão.

O ruído certas noites da cama dos meus pais
não era nada comigo
não era nada com ninguém
era lá com eles.
Em casa e na rua os meus pais eram
um homem
uma mulher
estava tudo dito
não era preciso tanto barulho para nada.





2 comentários:

Anónimo disse...

Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.

...

Anónimo disse...

muito bem dito, daniel. um beijo.

Canzoada Assaltante