05/01/2010

Janeiro de Vinte-Dez


© Isaac Levitan



Souto, Casa, madrugada de 5 de Janeiro de 2010



O que sei,
sei-o de cor.
Viver,
por exemplo.

*
Agora paredes verdes compartimentam dimensões do pensar.
Agora nem tudo é possível, basta não tentar.
Este ter-sido vivo ainda nos objectos remanescentes,
sei lá, um trecho de árvore trazido de um passeio,
um seixo lanceolado de outonos dados a húmus,
um bilhete de autocarro tirado para um trajecto que já não há,
líquenes e dólmanes e hímenes e ímanes,
bastidores de reinados entrevistos por criadas negras,
um pato que tínhamos na infância que deixei de ter e ser,
sábados de manhã na biblioteca municipal,
nesse tempo tudo se abria – até a biblioteca aos sábados – era ,
a chuva e agatha-christie e café-com-leite e pronto.
Paredes verdes agora fechando o confessionário,
agora a praça de alexandre, a viela do fala-só,
agora não chove, quem sabe outro dia a mesma noite.



*
Sou de poucos desejos, ainda é a minha sorte.
Por mor agravo, cobiço nada e invejo ninguém.
O problema está em coxear à simples visão do mar.

*
Brandos bandidos de brandy brandidos:
é dos livros dos livros dos livros é dos livros.

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Canzoada Assaltante