29/01/2010

Rosário Breve nº 140 - www.oribatejo.pt


Sonhei com o Sá Pinto

Acordei hoje a bater mal do capacete por causa de ter sonhado com o Sá Pinto. A boca sabia-me a murros, a lábio rachado, a dente esgalhado. Vacilante, periclitante, olhobelenensizado, dei os bons-dias à esposa (à minha, não à dele) num português liedsonizado, isto é, pôko légáu. Não vos conto nada: o resto do dia tem-me sido de mil-e-uma tremuras, um raio de uma travessia mal acordada pelo deserto da cagufa. É que galhetas, para mim, só as do azeite e vinagre.
Já me não bastava a certeza de que os impostos vão aumentar sim-senhores, ao contrário do que nos mentem pela televisão. Já era pouco que o senhor Taxeira das Finanças continuasse à frente das contas do país que vai mais atrás. Já não valia pouco que o sibilino e insuportável Sílvio Cervan diga que é do Benfica, quando eu é que sou. Já parecia que não dói a certeza-certezinha de o Santana Lopes ser muito menos uma eminência do que uma iminência, naturalmente parda. Já não era chato que a Vanessa Fernandes ande provavelmente a pensar em desistir do triatlo para concorrer a rainha de beleza de baile paroquial. Já custava pouco que “homem público” e “mulher pública” tenham passado a sinónimos em género e em número.
Sonhar com o Sá Pinto, caramba: isto nem ao Menino-Jesus se deseja nem perdoa. Mas eu sonhei, saberá o Diabo por alma de quem. Um dia destes, ainda sonho mas é com a Dulce Pontes aos berros, como é costume dela, na varanda. Ou com a Mariza a equilibrar um requeijão na couve do penteado. Ou com o Lobo Antunes a dar beijinhos na careca do Saramago. Ou com o Padre Melícias a ser pobre como Cristo. Ou com o Engenheiro Belmiro a pagar salários de gente às caixas dos hipers dele. Ou com o Manuel Alegre presidente mas de alguma associação de bombeiros involuntários. Ou com o Sá Pinto outra vez.
Com a minha pouca sorte e a natural batidela do capacete, até aposto que ainda sonho que sou do Sporting e que o Sílvio Cervan, só p’ra me moer o bestunto, também é.

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Canzoada Assaltante