© John Singer Sargent no seu estúdio de Paris (1885)
Souto, Casa, 14, 15 e 18 de Janeiro de 2010
Verifico sem dificuldade que as pessoas são máquinas-do-tempo.
Incessantes viajam ao antes-depois-durante.
Digo: versos e reversos.
Pessoa consigo pessoa, de amáveis animais vizinha durante as vidas dela pessoa e deles animais, também eles do tempo máquinas, também eles animais consigo pessoanimais, portadores de uma memória biológica fantástica, mágica, cabal, capaz.
A pessoa por ruas deixadas à solta, as ruas que tornam sítio humano o chão, o chão primitivo de antes das pessoas, também a pessoa é primitiva em sua solitude demandadora de ruas, como ruas há que são, como o são os animais, merencórias, isto passa-se.
E isto também: dentro disto da pessoa, o pânico da euforia se adentrada muito alguma arte pessoal, digo: adversos versos reversos.
E por dentro disto da pessoa, sentindo forrada a porcelana a abóbada do crânio, sentindo o corpo que se sente corpo, também portanto animal em rua.
A dor dos que ficam sentindo além a indiferença involuntária dos que foram: isto conta, os sobreviventes todos sabem quanto isto conta.
No dia 10 de Novembro do ano número 2003 d.C., um português chamado Adelino L. vogou pelas ruas de Paris, havendo entrado numa livraria para adquirir um exemplar de Les Mots et Les Choses, que Michel Foucault autorizou. Na vida de Adelino L., isto tem o relevo que tem. Há desconhecimento de por onde terão andado, à mesma data precisa, os nomes e as pessoas Maio dos Santos Luanda Carpo, Rudalbert Liebe Anckar Höss, Jacques-Paul Advanne Cadre e Gerónimo (com G mesmo, não com J) Camacho Inácio Bule. Mas não há desconhecimento quanto a Adelino L., Maio dos Santos Luanda Carpo, Rudalbert Liebe Anckar Höss, Jacques-Paul Advanne Cadre e Gerónimo (com G mesmo, não com J) Camacho Inácio Bule serem veras máquinas-do-tempo. Como Francesco Guccini, cantautor italiano que se prepara para concluir, a 14 de Junho do corrente 2010 d.C., setenta anos de nascimento, como os tigres e os insectos e as bactérias e os cento e sete símios que incluem o antropólogo Desmond Morris e o anarquista François Claudius Koënigstein dit Ravachol.
Mistral e siroco varrem ruas de França a África, panças acamadas de chá e biscoitos de limão guardam fogões-de-sala em ronronante placidez. Ruas da Tunísia à Argélia, de Villainviers a Certume, de Santiago da Praia a Monção – e animais por elas como animações do humano. A simultaneidade humanimal concilia astrofísicos e baratas, fumigadores e formigas, pontas-de-lança e gorazes, escritores de viagens e albatrozes. Síndroma de Ekbom, pulgas, fossas sépticas e X-Files – também se harmonizam sem incomodidade. E a consciência comportamental como exosqueleto da in-consciência reflexa – mesmo com a escola de Eleias que Parménides fundou. E os círculos polares geminados ao anel equatorial, sinestesias a cenestopatias: fascinante, não?
As florestas-da-chuva são para levar a sério, os deuses-da-mesma não. Cultivar, nem que por folclore, qualquer superstição – não é são. Será brasileirice, mas não é são. Xamãs, só em divãs – de psiquiatra. Os deuses? A biodiversidade, os ecossistemas, tundra & taiga, húmus & cirro – não dos outros, os de pau e gesso pintados em nome dos quais se imola o animal e se sacrifica a pessoa. Berçário penitenciário. Escola e leite – escol e elite.
Outro dia, outro bule de chá com bolo-inglês. Décadas de fumadores em cafés de clientela habitual, especialistas mecânicos hospedados em pensões húmidas mas pagas a peso de ouro, aliás. Trabalhos de sobrevivência ocorrem anos a fio: desparasitação de roupas e de instalações, esterilização de ferramentas, drenagem de pus, saneamento de condutas, regulamentação de acondicionamento, conservação e distribuição de víveres, nivelamento de ruídos, filtração de líquidos, lípidos e litinas. E Quiaios, Beira Litoral, como Wichita, Kansas. As muitas décadas 40 dos muitos séculos, a maturação temporal delas, a compartimentação lógica da anima aritmética. Pústulas e epístolas. Infecção e afectação. Santo Oreão de Gamavila. Santa Açucena de Bitóia. Dom Alessandro Modina. Franquelim Assis Metacarpo Dompo. E Adelino L., Maio dos Santos Luanda Carpo, Rudalbert Liebe Anckar Höss, Jacques-Paul Advanne Cadre e Gerónimo (com G mesmo, não com J) Camacho Inácio Bule. E Desmond e Ravachol.
Fixismo versus Criacionismo, bispos contra ciclistas, micro em macro como macro em micro, condado dado com conde a concordar, xácaras em chácaras, averroístas disseminados por granjas silvadas, enzimas, recuerdos, Dürer e Blake e Sargent e Medina, fogachos fátuos em cemitérios de ermas províncias, bruxas e abóboras, transconspiração de efeito-borboleta, prazer de fumar, carnificinas cinegéticas, exaustão de fezes, porquinhos-da-Índia ao serviço de laboratórios farmacêuticos fazedores de milhões (de dólares, de drageias), vozearias de alto espectro fricativo.
Isto havia de ser dito hoje – para alimentar a máquina-do-T.
Sem comentários:
Enviar um comentário