09/01/2010

Recordo as Cores da Noite

Souto, Casa, noite de 8 de Janeiro de 2010



1

Com a noite pelas costas,
com a noite pela frente,
rente ao fogo do lar,
um livro luminoso nos joelhos,
A Invenção do Amor e Outros Poemas
de Daniel Filipe,
onze anos depois de outro Janeiro,
mais de vinte e cinco depois da
primeira vez.
Aqui estou, Daniel
F.

2

Recordo vagamente as cores de uma noite em que andei sozinho de carro por uma zona industrial deserta, perto daqui de onde moro.
Não me recordo que me lá levou.
Recordo as cores da noite.
As manchas quase sanguíneas dos postes muito altos.
A caixa-de-sapatos rarefeita da névoa pós-crepuscular.
O meu carro branco-sujo como um sonho de gaivota.
A cor da falta e a cor da ausência, não me recordo de quê nem de quem.
Tudo muito vago.
Negro em cima com diamantes.
Negro em torno com chaminés.
E a sul do corpo o chão lucífugo, dinâmico, movediço, precário, efémero, meridional.
Percebo já, mais do que a meio do caminho, que estas são as cores que na velhice revemos, ou reverei, de olhos vagamente fechados.

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Canzoada Assaltante