08/07/2005

Sala de Espera

Estas mulheres cheiram a flores de enterro.
Sentadas nas cadeiras verdes, quase todas vestidas de negro, orelhas argoladas de ouro, poderiam ser minhas mães.
Estoiradas de filhos, gastas mas rijas, contam-se mutuamente os episódios iguais das vidas.
Uma só vida multiplicada: o mesmo filho de motorizada, o mesmo falecido esposo, os mesmos vasos com sardinheiras ao mesmo janelo da cozinha.
Eu não tenho motorizada, mas poderia ter tido.
Talvez devesse ter tido uma.
O que tenho, é sono.
Vem-se cedo para aqui, há muita gente para o mesmo.
Copos, depressões, tristezas vitalícias.
Chá, café ou leite.
Dão bolachas.
A instalação sonora debita o terço dos nomes, esses portáteis rosários.
Espero o meu nome.
Uma reprodução fotográfica do tamanho da parede apresenta um caminho na manhã de um bosque.
Ninguém vê o caminho.
Celestina de Jesus, gabinete 3.
Só sabemos este caminho, ao cabo do qual nos darão bolachas, paroxetina e flores velhas como mães de motorizadas.


HSC, Coimbra, manhã de 6 de Julho de 2005

Canzoada Assaltante