Ainda ontem aqui falei de um Ernesto.
Falo hoje de outro. Lucas de apelido, " Né 111" de alcunha.
Faleceu durante a noite que se fez hoje.
O meu irmão Fernando telefonou a avisar-me que ele se tinha sentido mal, pelas 19 de ontem, nas cadeiras de plástico branco do minimercado do Licínio.
Rua 1º de Maio, Pedrulha, Coimbra: a cobra de casas da infância.
O Né sentiu-se mal, levou a mão ao pescoço e ao peito, caiu.
Os paramédicos vieram, estiveram mais de meia hora de volta dele, levaram-no.
A ligação da aorta tinha cedido.
Aguentou umas horas.
Cruzou o escuro Letes às 5 da manhã preta.
Esta manhã, o telefonema do Fernando.
Esta tarde, espero saber a que horas de amanhã será o funeral.
O funeral do Né 111, pai do Nani.
Voltarei à minha terra, amanhã.
Voltarei à rua, reverei a colecção de gente com quem partilhei anos, cervejas frias, primeiros cigarros, bailes psicadélicos, motorizadas de sábado à noite, febres de gasóleo, núcleo de andebol, bocas político-partidárias.
Apertarei o Nani no único barco: o peito.
O meu irmão Zé Daniel, 16 anos mais velho que eu e, portanto, da geração do Né, estará presente, atento à teimosia da morte, à vitória indelicada do tempo sobre a bondade das pessoas chamadas Ernesto ou outro nome.
Tondela, tarde de 28 de Julho de 2005
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