Se os santos fossem mesmo populares, não seriam santos, mas gente do povo. E gente mais virada para a terra do que para o céu.
Comer gafanhotos no deserto e prègar (*) às dunas é mais coisa de capelão-fuzileiro do que de santo. E é pouquíssimo popular.
Outra coisa estranha é o facto de todos os santos só o serem depois de mortos. De modo que a santidade, condenada como está a ser póstuma, de pouco serve aos vivos, a quem os exemplos só aproveitam enquanto por cá andam.
Podemos não acreditar neles, mas que os há, há, como se diz das outras. Quase todos andam de sandálias e cheiram a alho que tresandam. A sua moral é feita de ralhos sexuais, abstinências dietéticas e crepúsculos mais tristes que de costume.
Há-os simpáticos, claro. António, por exemplo. Malicioso consertador de bilhas, alcoviteiro. Mas também de sandálias. E há os antipáticos. Paulo, por exemplo. Depois de chatear os outros pelo mal, desatou a chateá-los por um bem que nem tinham encomendado, como acontece com aqueles concursos da Reader’s Digest.
Altar, enfim, cada um tem o que merece. Eu, que não mereço, despeço-me aqui e vou converter-me à pesca. Sem sermão aos peixes. Isso nunca.
(*) Teimo na necessidade do acento grave. Os pseudo-arranjinhos ortográficos oficiais que se vão pôr num porco.
Texto orinalmente publicado no jornal Trevim, da Lousã, comuna 'Leite dos Santos', a instâncias do meu querido amigo Zé Oliveira e em data que não recordo. Lá para 2001, salvo grande erro.
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