Na banca de jornais, uma revista diz em voz alta e verde: “Ervas que curam”.
Não diz transitivamente o que curam. Apenas que curam.
Bom.
Tem chovido alguma coisa, sabes, mas já o que chove, cura, também. As horas são de alumínio esfregado a palha d’aço, há um ventinho fresco, a falta de sol directo enegrece o verde das plantas domesticadas que sugerem selvas de gaiola em quintais de matrimónio.
Um rapaz de barbas passa por mim com 'O Código Da Vinci’ no sovaco. O cérebro, que não tem controle, transporta-me àquele sábado de manhã de 1980. Vou contar isso.
Sábado de manhã, 1980. Outubro. Nove horas. Entro na Biblioteca Municipal de Coimbra, a velha. Madeira e pó. Requisito “O Homem do Fato Castanho” de Agatha Christie e um manual de Geografia. Leio toda a manhã. Lá fora, sem que o possa saber eu, a Natureza ensaia de manhã a mesma cor de céu que usará 25 anos depois numa tarde de Tondela, Julho, agora.
Já contei.
Pode viver-se assim. Viver-se disto. Será a vida.
Eu disse: “A vida.” Deus queira que a vida me não torne um velho chato como Deus, sempre a falar da vida como se a vida fosse um vizinho com a música muito alto a horas mortas.
Que ervas curam o quê? Não comprei a revista.
Tondela, tarde de 28 de Julho de 2005
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