Desconfiei sempre da folia organizada. Isto é, da folia institucionalizada e respeitável, cujo calendário pode implicar (e geralmente implica) consequências e cinzas tão graves como Alberto João Jardim.
O Carnaval deve começar por ser minúsculo. Ou seja: pessoal e intransmissível como a peça de roupa que algodoamos entre partes e calças. Há folia suficiente nas minúcias com que levamos a vida. Exemplos: quero um isqueiro amarelo, apesar de todo o arco-íris faiscar; prefiro fazer palavras cruzadas a cruzar palavras com gente quadrada; transporto no bolso um livro que não vou acabar de ler porque ando a fazer os possíveis para ser atropelado numa passadeira.
Em suma, não alinho em carnavais alheios. Chega-me bem conseguir adormecer em autocarros e almoços, de garfo hirto numa mão que treme.
O meu carnaval individual é quanto (me) basta para perceber que a loucura é séria de mais para ser partilhada.
Imagem: © Chema Madoz
Texto: orinalmente publicado no jornal Trevim, da Lousã, comuna 'Leite dos Santos', a instâncias do meu querido amigo Zé Oliveira e em data que não recordo. Lá para 2001, salvo grande erro.
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