Tínhamos um homem em casa.
A mulher mantinha esse homem.
A mulher era a casa.
Nós éramos de louça, de madeira, de alumínio, de papel: éramos os filhos.
A doença agarrou o homem pela cabeça e começou a levá-lo.
A mulher prendeu a doença pelos braços, mas a doença tinha um jogo de pernas invencível.
A luta durou seis meses.
Quando a mulher perdeu a luta, veio até ao corredor e esperou pela doença, que se levantava da cama onde o homem, finalmente sossegado, dormia sem respirar.
A mulher esbofeteou a doença.
A doença levou a mão à cara e pediu perdão à mulher.
A mulher abriu a porta da rua.
A doença saiu, recuando.
A mulher fechou-lhe a porta na cara.
Mas a doença tinha deixado um pé encravando a porta, adeus e até ao meu regresso.
Prato: pintura de Daniel dos Santos Abrunheiro, em ano irrecuperável
Texto: Pombal, 26 de Janeiro de 2005
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