21/07/2005

Milénio

Peço desculpa, mas não nasci para durar mil anos. Isso. Mil anos são coisa de gente perpétua. Não é o meu caso. Nem o vosso, eu sei.

É mais fácil sobreviver que viver. Não há verbo previsto para "sobremorrer". Desculpai-me. Não tenho lições a dar. Os tangos são coisas de senhores, as valsas são coisas de senhoras. Não descortino qualquer razão, para que, por um passo de mágica qualquer, as coisas se tornassem diferentes num milénio a que, em vez de dois, chamássemos três, ou catorze, ou qualquer coisa de que Deus se lembrasse, por puro prazer aritmético.

Não tenho soluções. Gostaria que a minha chuva fosse menos intelectual que a vossa. Gostaria que o próximo milénio me não trouxesse, sequer, a hipótese de ser cremado contra vontade. Não sei se é pedir muito. Mas também não é pedir.

Texto orinalmente publicado no jornal Trevim, da Lousã, comuna 'Leite dos Santos', a instâncias do meu querido amigo Zé Oliveira. Escrito a 31 de Janeiro de 2001, em Aveiro, acho eu.

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