28/07/2005

Aplausos



Deitado na cama, a cabeça dentro da cabeça de Virginia Woolf, a luz de ouro da cabeceira, o estore não de todo escorrido, a densidade das plantas anoitecidas no quintal. E então, aquela música tão longamente ansiada quão menos prevista: aplausos nas folhas. Era a chuva de ontem à noite. Orquestra e plateia simultaneamente, a chuva na latada de uvas, no castanheiro, no panasco seco. A terra bebendo o banho bento. Pousei com delicadeza a Virginia na parte desabitada da cama, fui à janela, descorri o estore. Não a via, mas ouvia-a. Santa água. Cantava como um rancho de raparigas muito antigas, muito camponesas de almanaque bertrand de princípios de XX. De tão pouca água é feita a felicidade, Virginia.



Foto: southjerseyghostresearch.org/.../ rain.html
Texto: Tondela, tarde de 27 de Julho de 2005

1 comentário:

Anónimo disse...

que bonito...
(clap clap clap)

Canzoada Assaltante