89.
TRÊS DE SETE, UMA DE QUATRO
Coimbra, domingo, 28
de Junho de 2020
I
(...)
Por
tenteadas tacteantes tentativas, sabes?
Por
aproximações ao jacente mistério claro.
Por
um rosto mais único do que só raro.
Por
anáfora cardíaca, sílabas por aéreas naves.
(...)
II
(...)
Horas
afinal boas sobem açúcar frutado.
Rasurados
os queixos da barba encanecida.
Fundos
haustos d’ar fresco ao poço inspirado.
E
a vida a fazer-se de gaja acontecida.
Antigamente,
espanhóis vinham à Figueira.
Cervejavam-se
os homens em tranquilidade.
Aquilo
era então mais vila que cidade.
O
Verão era eterno & a hora, ronceira.
O
poeta decente alinha justaposições.
É
dele usufruto de instantes cinzeiros.
Um
metro & sessenta, pequenino-camões.
Avinhada
fortuna dos melhores taberneiros.
Na
cozinha, o volume colige, do pobre Vicente,
as
cartas que deu & mandou ao irmão,
triste
Teodoro, dramática gente
de
ingente obra, diferente condição.
III
Cósmica
& cómica condição, a nossa humana.
Chafurdamos
religiões, macaquinhos-amestrados.
Algumas
moedas para o fim-de-semana.
Há
bêbados novos nas casas-de-fados.
Modas
& tendências são caca de rebanho.
Acéfalos
vão mudos à global tosquia.
há
muito ranhoso portador de ranho
&
muita tinhosa viscosa d’enguia.
Revejo
em ganho minhas próprias perdas.
(Eu
já me ri hoje de certa lembrança.)
Conheci
muita puta – do tipo que dança
sobre
expectorações de babas & merdas.
Agora
o meu inimigo é & chama-se Verão.
Odei’abomino
a caloraça impiedosa.
Estiolam
até as pedras de maneira horrorosa.
E
às vezes soluça-se-me a vapor o coração.
Não
é que se me tenha exaurido a pertença.
À
Cidade, digo, exaurido a pertença à Cidade.
No
que se cala & se diz & se sente & se pensa
–
aí a Cidade é, nunca desprovida de majestade.
(...)
IV
Acabei
por não sair hoje a reiterar o mundo afora.
Fui
antes a 1875, de Paris a Londres, lendo.
O
desjejum foi café-com-leite, que agora
me
devolve a infância de infante instruendo.
Deixei
as horas à solta como vacas em prado.
Não
forcei a escrita, até cozinhei.
Dei
alimento às aves, pois está claro que dei.
E
elas pipilaram: Senhor, pi-pi-obrigado!
Olhei
então o extenso Bolão sem multidão.
Uma
estradita de terra liga arvoredos.
Para
eu lá passar, falta-me um cão.
As
coisas mais belas são os meus brinquedos.
Lembrei-me
de horas em décadas tamanhas.
Recordei
vizinhanças há muito sepultadas.
Eu
só ando às aves, não já às aranhas.
Ser
velho é ver ouro nos pequenos-nadas.
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