79.
TUDO POR PAUTA
Coimbra, domingo, 14
de Junho de 2020 (I)
Coimbra. segunda-feira,
15 de Junho de 2020 (II)
(...)
Fui
pautando os instantes. Na pantalha, um homem de glabro crânio chamado Artur
Holanda; uma mulher de cabelo ruivo à força de tintas cosméticas chamada
Michaela Joanes; um polícia reformado (brigada forense) chamado Lelo Eduardo;
uma criança de 1980 desaparecida de casa de seus pais: Ruth Mignone, de seis
anos; & um poeta da antiga Checoslováquia cujo crisma não fui a tempo de
reter, embora me não tenha parecido grande-espingarda o que poetou.
Nenhum
de nós, humanos, é mestre absoluto do que à mente acorre. Vale-me certa
veterania nesses tratos. Deixei correr, pois.
Um
poster de Le Chat Noir na parede ao fundo das escadas que ligam o
piso-térreo ao primeiro;
Uma
aguarela suavíssima com panorama bucólico: casa de pastor, regato, grande
carvalho, ovelhinhas, um cão feliz;
Um
mediador de seguros chamado Jorge Caçador que, em criança, testemunhou o abate
de uma torre de igreja, episódio de que ainda hoje fala recorrentemente a
pretexto de seja o que for;
Uma
mulher Deborah, bonita, gorda, cinquentona bem-tratada, de um vilarejo algures
no Ohio, USA; e a irmã desta, Leslie, ruiva natural, enfermeira-chefe num hospício
de velhotes terminais – não se dão, ao que entendi;
Trecho
de rio curvando a sudoeste, entre arribas virentes, hipnóticas, sem traço de
unha humana;
Vacas
pastando o tempo todo do mundo, além de erva fresca;
Júlio
levando a mulher, Carolina, a passear o País em autocaravana, felizes quatro
semanas de evasão-cá-dentro – as fotografias que restam em testemunho desses
dias só deles;
Esther
Pontechuva, imperatriz das Galerias Modernas, exercendo a sua milionarice fácil
por fins-de-semana esquecíveis & esquecidos em solares de campo, entre miseráveis
pretendentes a soldados-da-fortuna;
Ou
então isto assim:
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