14/10/2020

VinteVinte - 79 (uma parte do II)


 


79.

 

TUDO POR PAUTA

 

Coimbra, domingo, 14 de Junho de 2020 (I)

Coimbra. segunda-feira, 15 de Junho de 2020 (II)

 

 

(...)


Fui pautando os instantes. Na pantalha, um homem de glabro crânio chamado Artur Holanda; uma mulher de cabelo ruivo à força de tintas cosméticas chamada Michaela Joanes; um polícia reformado (brigada forense) chamado Lelo Eduardo; uma criança de 1980 desaparecida de casa de seus pais: Ruth Mignone, de seis anos; & um poeta da antiga Checoslováquia cujo crisma não fui a tempo de reter, embora me não tenha parecido grande-espingarda o que poetou.

Nenhum de nós, humanos, é mestre absoluto do que à mente acorre. Vale-me certa veterania nesses tratos. Deixei correr, pois.

Um poster de Le Chat Noir na parede ao fundo das escadas que ligam o piso-térreo ao primeiro;

Uma aguarela suavíssima com panorama bucólico: casa de pastor, regato, grande carvalho, ovelhinhas, um cão feliz;

Um mediador de seguros chamado Jorge Caçador que, em criança, testemunhou o abate de uma torre de igreja, episódio de que ainda hoje fala recorrentemente a pretexto de seja o que for;

Uma mulher Deborah, bonita, gorda, cinquentona bem-tratada, de um vilarejo algures no Ohio, USA; e a irmã desta, Leslie, ruiva natural, enfermeira-chefe num hospício de velhotes terminais – não se dão, ao que entendi;

Trecho de rio curvando a sudoeste, entre arribas virentes, hipnóticas, sem traço de unha humana;

Vacas pastando o tempo todo do mundo, além de erva fresca;

Júlio levando a mulher, Carolina, a passear o País em autocaravana, felizes quatro semanas de evasão-cá-dentro – as fotografias que restam em testemunho desses dias só deles;

Esther Pontechuva, imperatriz das Galerias Modernas, exercendo a sua milionarice fácil por fins-de-semana esquecíveis & esquecidos em solares de campo, entre miseráveis pretendentes a soldados-da-fortuna;

 

Ou então isto assim:


Sem comentários:

Canzoada Assaltante