12/10/2020

VinteVinte - continuação do 76 (V a VII)

 

V

 

Lá para Norte, um Stijn Saelens. Belas, densas brumas sitiam o território. Do outro lado do mar, entretanto, uma Melissa envenenadora, género viúva-negra. Nomes dispersos, céus indiferentes ao deus-não-dará. Os anos purificam, embalsamam, quase perdoam. Letras & números grafunham cadernos infelizmente não-categorizados. Em um deles (pág.ª 259, VV-II) há referência a um Robert T. Da Flandres ao Québec, rascunha-se uma rede de homicidas aspirantes a heranças capitosas. Clarões esquisitos: de seitas religio-filosóficas tinturadas de proféticos ecologismos de cona-sem-banha. Aparece um Alex. Aparece um Fredo. Uma embalagem de Bisquick. Uma mansão creme-magenta. Respiro estas imagens como a um éter: em haustos gratos. Castelbajac, morte da vicomtesse local. As sucessivas repúblicas, o mais laicas embora, não obliteram estes parentescos divinónimos, por assim dizer – mas os assassinos sim, obliteram. Um tarado de, quê?, seus 28 anos – é quanto basta. Ensimesmados muito perigosos, nublados por dentro, letais, pesadelos vivos. Aspirantes a uma aristocracia que o sangue lhes nega - & até interdita. Um trabalho honesto não os supre de decência. Lá vai um de Agen a Frégouville. Ou Castillon. Ou Maurens. Já não importa. Ou Cauzaux-Savès. Tarde de mais. Arnaud Laurrieu etc. Sem explicação, sem avenir.

 

VI

 

Ou então nocturna metrópole, altos reclamos luminosos: FUJI, COLA, GUINESS, STAR, PLATZ. Um tal Gregor Mito caminha seguro través a bruma baforada pelo rio. Está prestes a desertar. Ainda o não fez. Ordenaram-lhe aguardar um código. Ao balcão da cervejaria, espera. Um minuto depois, senta-se-lhe ao lado direito o velho Toby Casal. Este ingere de um só sacão o whisky-duplo, abandona o Times rés o cotovelo-direito de Mito, dissolve-se na noite de talvez Blackpool, talvez Marseille, Köln talvez – ou Matosinhos, por que não?

 

VII

 

Cinturão florestal guarda os areais que o mar por amor nos envia em vento. Um recanto é quanto queremos. Corrijo-nos: queríamos. Já não. Isso tudo ardeu até antes de ser lenha. De nós passei a mim – nem licença pedi, nem adeus disse. Hora menos má, na verdade.

O bosquete daqui merece o meu cuidado, d’amador embora. Vieram chegando meios de subsistência – mas, ao contrário do surf, sem grandes ondas. As aves daqui são correctas & escorreitas. Muito ambas as coisas. Hoje mesmo, perto já das sete, o casal de melros apareceu no telhado das garagens com a sua cria. Maravilha: deram-lhe do meu pão na boca.

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Canzoada Assaltante