Ou então isto assim:
Em
lugarejo sitiado de vastas charnecas, um pântano fundo a oeste, farol em
promontório pré-oceânico, colinas cinéreas ao oriente mais improvável – aí onde
residem indivíduos discretos & mulheres de preclara auto-suficiência. O tempo
é agreste o mor do ano. Há muitos anos, um galego montou aqui padaria, o neto
dele é o velho que ainda a gere. O pub é de um inglês sisudo. A polícia
só vem se chamada da sede do condado. A feira é mensal (segundo domingo). A sul
do lugar, entre dois choupos majestáticos, temos a casa de Roderico Filinto,
paleontólogo de sua mesma, muita, idade. Não vive só: tem animais que o estimam.
Vai morrendo a geração dele. Os mais novos ignoram-no herói da guerra que houve
quando contra os coloniais. Não faz mal. O pároco visita-o sem ser por religião.
Nos natais de antigamente, uma sobrinha vinha passar a quadra com ele, ia-se
embora a 2 de Janeiro. Deixou de vir pelo curial motivo de ter morrido, um
cancro fulminante ou coisa assim. Há mais gente. Não muita mais, há a que há. De
certo modo de ver, há q.b. Nomes são por alguns usados, esquecidos depois. Há crematório
na sede do condado, a moda é recorrer a ele para poupar dinheiro em pedra,
campas, dormitórios afinal sem sentido. Não sei.
Alternativa:
Acompanhante
de camionista por duas semanas de ida-&-volta ao norte continental: espécie
de viagem sabática com bloco-notas. Profusão de apontamentos de índole geográfica
(humanos incluídos), gastronómica, arquitectónica, paisagística. Refeições em
nichos cartografados há muito pelos transitários profissionais. Dormidas no
camião estacionado em áreas-de-serviço providas de balneário & cantina. Desertos
idênticos a desertos, incontáveis aldeias semelhantes a séculos não-contados.
Variação:
A
pé por gândaras férteis cultivadas por outros. Alto, suficiente, falsamente distraído,
ele é Adriano Miguel Risques Brandão, ex-filho-família do equívoco ramo import-export,
42 anos, solteiro. A tiracolo, caríssima, a máquina-fotográfica. Tudo lhe interessa:
o pormenor ornitológico, o detalhe aquático, a subida árvore solitária no
exacto centro do Nada. Talvez um dia as publique em livro, às imagens roubadas
àquele silêncio todo, àquele pensamento sem repouso possível nem sinal de fadiga
alguma.
Ou
em retorno:
O
lápis, rápido ou brusco, não me deixa ter a certeza quanto à data exacta do
acontecimento – mas inclino-me, muito & gravemente, a considerar como merecedora
de confiança a notação 7 de Março de 1972 (uma terça-feira). Um barco holandês
& um barco inglês partilhando um cais, algures. O capitão holandês., K., é
um colosso imponente de 54 anos, quarenta de mar. O homólogo britânico, magro
qual canivete, é moço de 42 (como Adriano, lembrai-Vos), olhos azuis como películas
do céu nórdico. À noite, depois do jantar, encontram-se & conversam na
taberna gerida por mulheres. O inglês, M.L., oferece uma caixa de cubanos a K. Este
presenteia M.L. com um garrafão de rum das Antilhas. K. desamarra amanhã, quarta-feira.
M.L. tem até sábado. Reencontram-se no 22 de Março do ano seguinte, se.
Ou
por-outras-palavras:
Estesia & entropia convivem na minha mente pela
hora finimatinal, vindas não-sei-d’onde a propósito de não-sei-quê. Pessoas &
energia implicam elas. Vi homens biografados a preceito; vi a força das aves
aceitando-me alimento.
Sem comentários:
Enviar um comentário