76.
GALERIA INTERCONTINENTAL
Coimbra, quarta-feira,
10 de Junho de 2020
I
Os
pardais começam às seis. Hoje, recomecei eu às cinco menos dez. Da manhã,
naturalmente. Pão & arroz voadores, aterrando sem fragor nas telhas que
antecedem o bosquete da colina sobre que moro - & me demoro quanto &
quando não mouro, à Camões.
Pois,
décimo dia junino, dito de Camões & de Portugal. Pobre padroeiro de tão
fraca capela. Ingente orago de pequenina gente. Grande Poeta, isso sim, dúvida
nenhuma. Antes assim que deveras morto enfim.
II
Da
série Medical Detectives, respectivamente temporadas 8 & 2,
episódios 2 & 8:
Waseca,
Loon Lake, Minnesota, Cally Jo Larson, 12 anos.
20
de Abril de 1999, dia mau, pior dia.
Um
miserável chamado Lorenzo Sanchez.
Olhar
de mal-morto. Sem remédio, o conto.
Vancouver,
British Columbia, Lynn Breeden, 30 anos.
Cadáver
queimado em contentor de lixo, 6/6/1991.
Pass(e)ara
pela Robson Street na sexta-feira pela noite
Chris
Cruz aka Tony Devons, outro zé-ninguém matador.
III
Ou
então 4 de Fevereiro de 1987. Dão com o artista morto na cama. É a mais estreme
solidão. Vinha do ano 1923. Vai nenhures, agora. Foi Liberace.
Ou
então 1 de Outubro de 1946. Hora de enforcar os algozes. Curiosa galeria, de
que houve cuidado o senhor sargento-mor John C. Woods – abençoada psico-corda.
IV
Morrem
uns de enforcamento, outro de anemia distraída. Morrem todos, enfim. Enquanto não
deixam rasto mais ou menos delével. Individualidades mesclam-se em esfarrapadas
lembranças. Comida, bebida, medicamentos, sexo, insónia – Manuel Liberto
Pacheco Patrício não tem mãos a medir. Joana Carla Pêga de Nascimento vive de
& para o alheio prejuízo. Enreda cidadãos em intermináveis complicações jurídicas,
conseguindo extorquir-lhes dinheiro & bens a troco de silêncio &
quietude. Liberto acaba matando Nascimento no decurso de uma madrugada aziaga.
Condenado a dezoito anos, cumpriu oito. Só oito? – exclamarão alguns. Só
oito, sim. Enforcou-se com o lençol do catre na cela sozinha que o guardava do
mundo mas não de si mesmo.
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