(1938-2020)
64.
DUAS MORTES & OUTRAS NOTAS
Coimbra, segunda-feira,
25 de Maio de 2020
A
besta-fera chamada Calor-a-Mais está de volta. Só podia. Maldição deste
milénio. Maio ainda não acabou – mas já parece os agostos d’antigamente.
No
sábado, 23, morreu a escritora Maria Velho da Costa. Tinha 81 anos. Deixa obra
& nome. De quantos se pode dizer igual?
A
saída à Cidade continua em suspensão. Não sei que dia será. Ansiedade nenhuma,
mas nenhuma mesmo. Vou arranjando que fazer. Ginástica esconde-esconde com o
senhor Gato – e festa: faz hoje um ano completo que ele veio para ser a alegria
natural desta casa.
Este
Ano-VinteVinte quer ser esquecido desde o primeiro trimestre. Muitos mortos em
muito lado. É verdade que há – continua a haver – sobrepopulação. Penso que a
Natura de vez em quando se lembra de fazer a barba à humana rebarba. Pestes,
guerras, grandes rafas etc. tudo business as usual. O bronco Império-USA
está a dar as últimas. Segue-se o Império-Chino. Podeis duvidar, não-aquiescer.
Vale o mesmo: estaremos quase todos mortos antes que o corrente século morra.
Entretanto,
e por cá, o progressivo desconfinamento já dá manchetes: mormente, da
criminalidade-chunga que faz as delícias de certa Esquerda-Esguelha & a
teatral indignação de certa Direita-Razoável. É paradoxal? Não sei se é. O burro
só come palha por só darem palha ao burro. Uns segundos na TV dão direito ao
espelho-celebridade-instantânea. “Racismo” & “xenofobia” vêm logo a lume de
cada vez que nos atóis suburbanos a chunga desata aos tiros & à catanada. É
o coitadinhismo no seu pior. O jornalismo já não existe. Em lugar dele, há o
grito, o alerta, o alarme, a lágrima, a comoção – e a acefalia, que este
povo-sem-testa não sabe que significa. Ansiedade nenhuma, nenhuma mesmo –
enfim.
(Ao cabo da tarde, vem a má notícia da morte de Leonor Costa, mulher do José Agostinho ‘Tarzan’ & mãe do José Daniel, meus Amigos todos. Temo agora pelo desamparo do viúvo.)
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