V
Ainda
posso nomes, a meia-adriça a bandeira embora.
É
gentil burla minha? É gentil burla minha.
Todavia,
tal onomástica é aritmética necessária.
Alfredo,
Álvaro, Manuel, Aniceto, Bento, Rui.
Não
cuido de terem ou não pragmática.
Sirva-se
do saber quem puder se quiser.
Eu
não doutrino, eu ando em versos perenes.
Donato,
Dionísio, Melro, Anselmo, Pietra, Jorge.
Ainda
não posso morrer, sinto ser cedo o instante.
Outubro
me acena adeuses improváveis.
Sediciosa
ditadura amoral me não conquista.
Lídia,
Luísa, Alberta, Aninhas, Telma, Mafalda.
Invocar
agora Santa Bárbara é que não.
Na
Gare de Austerlitz, vão de garrafão os santos.
Na
aldeia ficaram os doentes, os velhos, os pardais.
Hugo,
Stephen, Leonard, Leopold, Gil, Ferdinand.
Berlim,
Roma, Praga, Paris, Sacré-Coeur, a Haia.
Rápida
geografia fulmina a sobrevivência do Um.
Comboios
na noite varando as estrelas duras.
Castro,
João, Gustavo, Boa-Morte, Luiz, Carloto.
Recordo
o professor de Química-Física debulhando pão.
Era
na praça onde a estátua do soldado co’ pretinho ao ombro.
Um
azul-piscina amorna-me a recordação.
Amaro,
Quiroga, Quintana, Benedito, Falcão.
Emulando
os passos decisivos alheios vingo.
Não
copiando porém, isso é que nunca.
É
meu o catálogo civil; minha a nau-dos-corvos.
Raquel,
Filomena, Mesta, Bárbara, Dinamene.
(VI)
(É
certo que perdi ósculos, os óculos porém não.
Demorei-me
apreciando a pomba sobre ardósia escura.
Beijei-a
de cerrados lábios em ideia grata.
Idioma
nos envolve, pátria de dois por oscular.)
VII
Um
rasto de crimes & agonias infesta o exterior.
Até
crianças são mortas por exacta razão nenhuma.
Nada
de ninguém ao-volante-do-chevrolet-pela-estrada-de-Sintra.
Nada
de ninguém em-Pessoa.
É
menos difícil quando se recupera alguma música.
Só
tem de aceitar-se que se é a sós a própria voz.
Uma
refeição ingerida na sobreloja de Bernardo sem Bernardo.
Casebres
sem janelas tornam bicharoca a gentalha.
Sim,
crianças mortas à porrada por subgente (ins)ciente.
Ainda
ontem me documentaram o Heydrich nazi.
Portugal
parece – mas não é – mais manso.
Aqui,
a violência é consagrada a maculados corações.
As
televisões rejubilam de paroquiana euforia.
O
sangue provinciano é a droga delas.
Tóxica
corja de mirones vorazes rapazes rapaces.
Enodoado
glaucoma da grei peregrin’andarilha.
(...)
VIII
Faria
hoje anos a senhora Cândida Leite.
Falta-me
uma mão de anos para ser da idade
que
era a dela quando nasci à luz d’azeite
da
filha dela, Mãe minha, nesta cidade.
Faria
mas não faz, deixá-la dormir.
Defuntos
somos todos garantidos à nascença.
Ser
neto é-me trabalho que descompensa
a
tença que é nascer sem ser p’ra rir.
Recordo-a
de luto perpétuo pelo marido,
feroz
cão-de-quinta p’ra consumição da casa.
Avó-ave
de perene quebrada asa,
veio
por esquecimento & partiu por o olvido.
Nonagenária,
ainda assim, quando se foi.
Eu
gostava do riso dela, de velha infanta.
Nada
enfim lhe custa já, já nada lhe dói.
Estive
há tempo junto à sua campa:
águia
perfilada me semelhou, não altaneira
porém,
antes humílima, não de rapina.
Difícil
não ver nela a mesma menina
que
filha dela foi - & minha Mãe inteira.
Lá
dormem ambas em próximos chãos.
Os
maridos também – como se irmãos.
Um-de-Julho,
cândida Cândida, parabéns.
A
sós & em sossego, nem ossos nem cães.
Nós
por aqui, todos bem.
(Ou
não – mas não faz mal.
Cada
um só consigo é alguém.
Quarta-feira,
1 de Julho; Coimbra, Portugal.)
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