90.
‘D’UNA SENSIBILITÀ SQUISITA’
Coimbra, segunda-feira,
29 de Junho de 2020
(...)
V
Ao
Teatro alla Scala vão esta noite
Alberto
& Edenia, casal gentil.
Giovedi
9 Maggio 1940 alle ore 21,15 precise:
O
jovem H. von Karajan rege a orquestra-residente
Em
programa de que constam
Cherubini
/ R. Strauss / Brahms.
A
França não tarda a cair.
Edenia
& Alberto abandonam Milano.
Refugiam-se
no Gerez, muito longe de tudo.
O
fascismo de cá é quase insignificante.
Aprendem
a Língua, praticam-na com os íncolas.
Lêem
Júlio Diniz & Camilo Castelo Branco.
Vão
vivendo da mala carregada de ouro.
Não
fazem planos nem embolorecem de nostalgia.
Estão
ambos na flor-da-idade, são sãos.
Melómanos
moderados, escutam a Emissora.
Adquirem
a Pensão Verde, prosperam devagar.
Decidem
não reproduzir-se – por amor o decidem.
Vão
conhecendo insignes figuras:
Nemésio,
Branquinho, Régio, Vergílio, Sophia.
Adquirem
sociedade paritária de hotel no Porto.
Erigem
vivenda na Foz.
Forram
obrigações-do-tesouro & títulos-de-aforro.
Vendem
as quotas, mantendo-se sem tocar no depósito.
Não
regressam à pátria que foi deles & de Verdi.
A
colecção de primeiras-edições de Diniz & Camilo?
Vale
mais de dois mil contos à data do duplo-óbito.
Uns,
que foi suicídio partilhado.
Outros,
que um se matou depois de matar o outro.
Nenhum
deixou diário íntimo.
O
Estado herdou deles tudo.
Tudo
– menos o encanto daquela soirée de 9/5/40.
No
dia seguinte a ela, veio no Corriere della Sera
A
crítica do autorizado meloscriba Franco Abbiati:
“Giovanissimo,
il maestro Herbert von Karajan
ha
dato prova ieri sera alla Scala d’una
maturità
artística non comune e d’una
sensibilità
musical esquisita.”
Depois,
outros anos.
Nada
hoje de Alberto nem de Edenia Calpane.
Nada
de nós um destes amanhãs.
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