15/10/2020

VinteVinte - 80 (inteiro, que nem é muito)




Françoise-Athénaïs de Rochechouart de Mortemart,
Madame de Montespan
(1640-1707)


80.

 

ALGUMAS MERDAS TAMBÉM CONTAM

 

Coimbra, terça-feira, 16 de Junho de 2020

(Bloomsday)

 

Ontem, acabada já a tarde, infante a noite ainda, deitei-me. O sono veio tomar-me a boa-hora. Nem me levantei para jantar ou cear. Despertei eram cinco & quarenta do dia novo. Finalmente, ordenei o meu horário favorito. Recebo a primeira luz, orizicultivo já os pardais primaciais da jornada. Café, pão, duas senhoras: a de Sévigné & a Ruth Rendell de The Fallen Curtain and Other Stories. Mais adiante, hei-de ligar a máquina-imagética para ver uma história criminal francesa que ontem me acicatou a atenção. Tudo, portanto, em boa & devida ordem.

 

A manhã oferece uma viagem à existência da puta-mor de Versailles, vulgo Madame de Montespan. Pariu com força: do marido, duas vezes, salvo erro; de Louis XIV, para aí umas sete. Naturalmente, a Montespan aparece em algumas cartas da Sévigné – assim como a sua predecessora, a La Vallière, & a sua sucessora, a Maintenon. Histórias giras, capazes de me ilustrar a matina: tempo nada mal gasto.

Três séculos depois, em Ventura, Califórnia, é assassinada uma mãe de duas crianças, esposa legítima do gajo que mandou a amante matá-la com uma faca-de-serrilha. Menos gira, a história californiana.

Também pela viseira me passa outra figura francesa, ridícula esta, mesquinha até (nem pelo suicídio se lava a cara sequer): a do “petit juge” do Caso Grégory, um marreta chamado Jean-Michel Lambert. Há quem – porque se matou – lhe perdoe. Eu não. Foi um desastre acrescentado a uma tragédia, abominável crime em solo francês (1984). A figurinha é-me repugnante, pronto, daqui não saio. Outra figurinha repugnante: Marguerite Duras, nem menos. Tal como John Lennon, esta “escritora” foi sempre na overrated bluff. Nem menos nem mais.

Felizmente, a idade facilita-me a fala directa. Não ando aqui para engonhar seja quem for. Se algo ou alguém é uma merda, eu digo que é uma merda. Sem metáfora nem rodeios “politicamente correctos”. Odeio o “politicamente correcto”. Porquê? Porque é uma merda.

 

Mas adiante: este tem sido um dia de aprendizagem, como aliás quero sejam todos. Aprendizagem rima, na nossa Língua, com viagem. Faz sentido, para mim.

Vejo & ouço um tipo falar sobre a infância que lhe coube. Doença, fantasia, repressão, violência. Corrompida (auto)narrativa. Diz que descambou no assassínio em série porque. Etc.

 

(Recordo ter ido por aquela estrada longa.

Foi por uma noite temperada, estrelas à vista.

Andei muito, muitos quilómetros, muitas horas.

Colhi uma laranja de berma-estrada.

Soube-me tão bem: mais bem que viver.)


Sem comentários:

Canzoada Assaltante