03/10/2006

Invernoutubroje

Este outubro não é de maiúscula.
É todos os outubros.
O mesmo agora de quando enxugava no corpo a roupa outrora.
Hoje fez-se um inverno tão próximo como uma afronta pessoal.
Começou cedo.
O mesmo inverno de homens da minha família.
Posso garanti-lo.
Não em versos convencionais.
Nestes sim.
Não recebi a chuva de hoje no meu corpo de amanhã.
Recebi a chuva nos corpos deles que foram.
Foi uma caminhada rápida.
Um homem tem destas pusilanimidades.
Caminhei rápido sob o aguaceiro e através dele.
Homens caminhavam comigo em família.
O outubro é recente de centicinquenta anos.
Rápidas contas gota a gota feitas corda a corda.
Frio não mortal.
Fresco humano.
Pálidas chilras pinturas no muro do ar.
Homens que pareço repetir na água diagonal.
Borrões cinzerdes arvoravam-se manchas.
Regateadoras tranças de água encordoavam as valetas.
Tudo empurrava para casa.
Acedi de apertado casacoração.
Os sapatos chafurdavam já como sapos.
Vieram todos comigo os meus homens.
Fiz chá para eles.
Só queriam chuva.





Caramulo, madrugada de 3 de Outubro de 2006



3 comentários:

Manuel da Mata disse...

Olá Daniel!

Vicissitudes várias têm-me impedido de ler e comentar regularmente os teus textos. Esta tarde li alguns e não fiquei desiludido, como vem sendo hábito.
Pedi o teu e-mail ao Zé Ribeiro, mas ele tê-lo-á perdido. Tomo a liberdade de deixar o meu. Aí vai: mpbarata@gmail.com.
Desculpas mil, que não pude evitar, e um grande abraço.

Daniel Abrunheiro disse...

abraço sempre, manel.

Fanette disse...

Outra vez entre serras! Ou ainda roje Invernoutubro?

Canzoada Assaltante