Esta noite, entre as 22 e as 23h00 em 91.2 FM ou, pela net, em www.emissoradasbeiras.com (também há acesso por http://www.radio.com.pt/ -Distrito Viseu, Concelho Tondela, Emissora das Beiras).
1
Era uma vez um homem pobre que gostava muito de uma mulher que também era pobre. Por causa da pobreza, o homem casou-se com uma mulher que era rica e começou a gostar dela. A mulher que era pobre esperou mais dois anos e casou-se com um homem rico. Os quatro viviam na mesma terra e na mesma rua.
2
Ao todo, os dois casais fizeram sete filhos – e os sete filhos eram todos parecidos uns com os outros. Chegou então ao mundo um Inverno mais duro que de costume. O homem rico começou a sofrer da próstata. O médico, por distracção, disse-lhe que ele ia sobreviver. E que ia ficar estéril.
3
O homem rico ficou estéril. Depois, não sobreviveu. Aquilo da próstata complicou-se e acabou com ele ao cabo de meio ano. A mulher que tinha sido pobre tornou-se viúva remediada. Foi vendendo as courelas uma a uma para sustentar os filhos. Até que ficou pobre outra vez.
4
O homem que tinha sido pobre teve pena dela e disse à esposa que começasse a comprar o dobro da mercearia: dois sabões, dois pães de quilo, dois quilos de açúcar e por aí adiante. Aos sábados de manhã, o homem ia a casa da vizinha, depositava o saco das compras na banca da cozinha e aceitava uma chávena-almoçadeira cheia de café de mistura.
5
Os sete filhos cresceram tudo o que tinham de crescer e foram-se às vidas deles. O homem começou a almoçar aos sábados na casa da outra mulher. Se chovia, ficava para jantar. Passados uns tempos, já só voltava a casa na segunda-feira.
6
Às vezes, a esposa vinha à varanda e chamava-o para que fosse atender o telefone. Então, o homem chamou a Companhia e mandou instalar um telefone na sua casa dos fins-de-semana.
7
O homem chamava-se Alberto. O povo começou a chamar-lhe “O Alberto das Duas”. E ele ria-se porque gostava da alcunha. E porque, de facto, gostava das duas.
8
O padre da freguesia ainda mandou umas “bocas”, mas teve de se calar porque o Alberto das Duas disse em voz alta, no bar da Associação, que a irmã do padre era tão irmã do padre como do Papa.
Era uma vez um homem pobre que gostava muito de uma mulher que também era pobre. Por causa da pobreza, o homem casou-se com uma mulher que era rica e começou a gostar dela. A mulher que era pobre esperou mais dois anos e casou-se com um homem rico. Os quatro viviam na mesma terra e na mesma rua.
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Ao todo, os dois casais fizeram sete filhos – e os sete filhos eram todos parecidos uns com os outros. Chegou então ao mundo um Inverno mais duro que de costume. O homem rico começou a sofrer da próstata. O médico, por distracção, disse-lhe que ele ia sobreviver. E que ia ficar estéril.
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O homem rico ficou estéril. Depois, não sobreviveu. Aquilo da próstata complicou-se e acabou com ele ao cabo de meio ano. A mulher que tinha sido pobre tornou-se viúva remediada. Foi vendendo as courelas uma a uma para sustentar os filhos. Até que ficou pobre outra vez.
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O homem que tinha sido pobre teve pena dela e disse à esposa que começasse a comprar o dobro da mercearia: dois sabões, dois pães de quilo, dois quilos de açúcar e por aí adiante. Aos sábados de manhã, o homem ia a casa da vizinha, depositava o saco das compras na banca da cozinha e aceitava uma chávena-almoçadeira cheia de café de mistura.
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Os sete filhos cresceram tudo o que tinham de crescer e foram-se às vidas deles. O homem começou a almoçar aos sábados na casa da outra mulher. Se chovia, ficava para jantar. Passados uns tempos, já só voltava a casa na segunda-feira.
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Às vezes, a esposa vinha à varanda e chamava-o para que fosse atender o telefone. Então, o homem chamou a Companhia e mandou instalar um telefone na sua casa dos fins-de-semana.
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O homem chamava-se Alberto. O povo começou a chamar-lhe “O Alberto das Duas”. E ele ria-se porque gostava da alcunha. E porque, de facto, gostava das duas.
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O padre da freguesia ainda mandou umas “bocas”, mas teve de se calar porque o Alberto das Duas disse em voz alta, no bar da Associação, que a irmã do padre era tão irmã do padre como do Papa.
9
O tempo passou com suavidade e constância. A legítima do Alberto adoeceu de um peito e deixou de respirar à chegada do Outono. O Alberto das Duas passou a ser conhecido como “o Alberto da Metade”. Desta alcunha, o homem já não gostou. De modo que lhe deu para entristecer e morreu na noite de Ano Novo.
10
A outra mulher deixou-se ficar. Como o Alberto lhe tinha comprado as courelas de volta, foi-as vendendo uma a uma outra vez para se sustentar. Ainda lhe faltava vender duas quando a irmã do padre morreu. Então, o padre chamou-a para junto dele e ela foi e nunca mais se falou no assunto, pronto.
O tempo passou com suavidade e constância. A legítima do Alberto adoeceu de um peito e deixou de respirar à chegada do Outono. O Alberto das Duas passou a ser conhecido como “o Alberto da Metade”. Desta alcunha, o homem já não gostou. De modo que lhe deu para entristecer e morreu na noite de Ano Novo.
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A outra mulher deixou-se ficar. Como o Alberto lhe tinha comprado as courelas de volta, foi-as vendendo uma a uma outra vez para se sustentar. Ainda lhe faltava vender duas quando a irmã do padre morreu. Então, o padre chamou-a para junto dele e ela foi e nunca mais se falou no assunto, pronto.
Caramulo, tarde de 18 de Outubro de 2006
2 comentários:
Adorei ler! Achei um conto tão doce...Beijos para ti.
beijos, paulita. falei por tm com a sandra feliciano: boa sorte para a vida do teu novo livro.
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