01/10/2006

Nevoeiro e Partida

Esta manhã, tão cedo como um nascimento, o ar pulverizou-se de água.
Nadandei no nevoeiro para respirar entre algárvores e passareixes.
Naus de rodas bramiam na cegueira resplandecente.
Faz-me feliz sempre, tal cenário.
Pouca coisa me faz feliz, por isso fico feliz com coisa pouca.
Tenho um livro decente e fácil para ler.
Tenho uma data de lápis, um caderno limpo.
Os pulmões alcatroados agradeceram-me o breve passeio pela rua cega.
Tenho de fazer, hoje ainda, nova viagem à outra serra.
Em dias de sol, a outra vê-se desta.
Alguma roupa no saco, os tarecos higiénicos, o livro, o caderno e os lápis.
Vou encontrar-me lá com novos textos.
Eu sei que sim.
Espero que também lá o mundo esteja londrino.
Uma pessoa encontra-se nas sucessivas perdições.
Uma pessoa continua sempre, como se fora para sempre.
No livro, um homem anda de barco pelas Índias Orientais.
Quando fecho o livro, a terra reclama-me como a um marinheiro docemente fatigado.
Quando abro o caderno, posso ir aonde quiser.
E vou.
E vou.





Caramulo, tarde de 28 de Setembro de 2006




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Canzoada Assaltante