15/07/2009

Phryné agora minha

par Élias Robert (1818-1899)
Marbre, 1855
Facade nord de la cour Carree palais du Louvre, Paris

Para Amélia Pais, que gosta de poesia e de quem a poesia gosta

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A CARESTIA DO AMOR

Stat meretrix cento cuivis mercabilis aere,
Et miseras jusso corpore quaerit opes.

OVÍDIO, Amores, Lib. I, Eleg. X



Feliz o tempo em que uma cortesã
O era porque o sangue lho pedia,
E só ligeiras prendas recebia,
Uma ode, um junquilho ou uma romã.

Hoje, d'amor toda a paixão é vã
Se o cantar dos sestercios a não guia;
Qualquer rameira vil ganha num dia
Cem vezes mais do que se fiasse lã.

Por isso, Claudia, que eu, cheia de andrajos,
Ha pouco vi, seguindo, ao sol adusto,
O pai no amanho de arrendadas glebas,

Ontem, no Circo, apareceu com trajos
E joias cujo fabuloso custo
Daria para erguer de novo Tebas!


EUGÉNIO DE CASTRO, Camafeus Romanos (1921), pp. 79-80


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Quental se chamou o calígrafo proprietário de algo hoje meu, um exemplar de Camafeus Romanos (1ª edição, 1921, Lumen, Lisboa-Porto-Coimbra), por Eugénio de Castro.
Em antiga tinta então nova, esse remoto Quental inscreveu, a páginas 80, este rodapé autógrafo ao soneto A Carestia do Amor:

A propósito:

"O nôme de Phryné, apezar de esta célebre cortezã sêr thespasiâna, conserva-se ligado ao da cidade de Athênas, pois foi aì que ela adquirio essa fâma de beleza e ganhou uma fortuna tão monstruosa que, quando Alexandre Magno destruio Thebas, ela ofereceo-se para a reedificar á sua custa!!..."

Das "Voluptuosidades românas", por A. Gallis

Hoje, e desde o dia 15 de Janeiro de 1985 (Coimbra), tudo me pertence: a rica hetaïre grecque, Ovídio, Eugénio de Castro e o mesmo Quental que dono foi do que é meu.


1 comentário:

Amélia disse...

Obrigada, Daniel, pela linda dedicatória - e pelo poema.Um abraço e boas férias!

Canzoada Assaltante