30/07/2009

UM POUCO ANTES DE AMANHÃ (24)

24

Pombal, entardenoitecer e noite de 28 de Julho de 2009

Os motores de rega cantam aos pés do milho no Campo.
Traços de tinta preta, de castanha também, atiram as aves no Céu.
Vejo pessoas dentro, corações mecanográficos pulsando a Terra.
Não faço ideia que vida seja a das pessoas dos países sem Mar.

Gaze branca, quase ar, veste as raparigas do Verão.
Esta felicidade aqui dentro cala-se e vê o Mundo.
Dizer: António Pedro Lopes de Mendonça.
Mas depois, em torrente, dizer também: Camões.

Camilos (Pessanha e Castelo Branco), Herculano, Garrett -
e Nemésio arrolando: "Fr. Agostinho da Cruz, Bocage,
João de Deus, Antero, Gomes Leal, Cesário, Nobre,
(...), Pessoa e ainda mais." (Nemésio, Conhecimento de Poesia, p. 74).

Ter isso no corpo, esses e outros nomes na Solidão.
Alguma vez voltarei a outonocer por bandas do Botânico?
Sim, voltarei: nomes dentro do meu corpo, olhados Dentro.
Vogar na felicidade coruscante de sol entr' Árvores.

Couraças, ermos, palavras que amo e chamo, lezíria, Gândara,
charneca, granja, chácara, fazenda, quinta, Rancho,
monte, colina, fraga, cabeço, viela, ruela, travessa, Praça,
circo, tinta, alfageme, tiracolo, recipiente, magnitude, Lençol.

A costura das mães perto do fogo domesticado sobre negra Pedra.
Os motores de rega, como ralos, serrando o ar verde do campo de Milho.
O trabalho das visões especiosas no que se supõe Dentro.
Beleza e constante negociação do detector consigo Mesmo.

Quer dizer: detecção constante, constante trabalho em Mundo.
Língua, rede neurónia-silábica (constante, até em Sonhos).
Excelência do coração figurado como destino Turístico.
Geometria, zoologia, meteorologia, optometria, Cosmogonia.

1999: Verão: homem encruzilhado, caçado em cheio pelo Si.
Que estio foi esse Verão para que outros Homens?
Contemporâneos de anacronismos: o que(m) estamos, Somos.
Sincrónicos do Ter-Sido no A-Ser Por-Vir.

Costumo redecorar a minha casa com tatuagens a Lápis.
Cumpro objectivos (Van der Graaf Generator, Gentle Giant,
Focus, Edgar Winter Group, Natalie Dessay, Alfredo Kraus):
horas de café & tabaco, em silêncio alto de Campanário.

Digo: em casa, Pessanha, Leite de Vasconcellos, Rodrigo Emílio,
Musil, Baudelaire, Collodi, Isabel de Toledo, Codax,
a Alorna, a Staël, Chessman, Capote, Döblin, Dürrenmatt,
Mosley, Carr, Fo, Tevis, Kawabata, Malheiro Dias.

Ou digo: chávena azul, vinagrete, louçania, lhaneza, Esperanto,
colóquio, estratego, rama, módulo, semanário, Satisfação,
caldeu, copta, assírio, aramaico, hitita, fenício, cretense, Anatólio,
neanderaustralastronauta, belga, manchego, gaúcho, Quacre.

Combato a falsa diafaneidade dos simplórios (discurso Incluído).
As malhas palavrosas podem e devem surgir em Ímpeto.
Nada contra tratá-las, metrificá-las, alindinhá-las, Nada.
Mas o jorro tem funções, sacia necessidades, é de Homem.

Aqui sentado, mas atento ali, chapinha a água lodosa no Casco
do barco longe & imediato, tange o vento o sino pequeno da Aldeia,
assim tomará a língua de Sol a mesma realidade Sublunar,
nas bibliotecas os leitores-térmitas patinham em Casulo.

Labiríntica racionalidade da Cartografia venosa nos Corpos.
Silêncio e sofrimento em alguns lares súbito Descarnados.
Aumento das receitas sustentado pela presença do Navegador
endinheirado de torna-viagem por ocasião e Efemeridade.

Numa associação recreativa de antanho, noites de findos, afinal, Invernos.
O moço preparando lume para sardinhas e pimentos no Parque.
O do acordeão, o da viola, o dos chapéus, o da fruta, o da Sãozinha.
Os peixes vermelhos no charco glauco, frio, antigo de Mais.

Famílias utilitárias, proverbiais, comedoras de Arroz-de-Tomate.
Pessoas belgas e canadianas e malaias e Húngaras.
Ruas que um músico toca com as mãos como um Pintor.
Um cavalo fulminante, visto de repente, em couro, em Vento.

Um cigarro vendo passar os carros, as criancinhas tão Rãs.
Doçura da noite durante que é possível não dizer de Dentro.
Autarcia essencial da existência, a bordo de um corpo com Língua.
No tempo do Tempo, ágora e agora, ermo, povoação, Luzes.

As histórias que idiomatizam as crianças na Noite.
A música do vento nas canas, vitrificada a lagoa de Lua-Grande.
Astros, crianças que os olham em bêdê e com o coração Muito
puro, muito consorte da fundamental felicidade de (ainda) Viver.

Pele que permite toques do mundo, pele guardada ao Ar.
Couro humano, diário couro nocturno, nauta, Astrofísico.
Couro-corpo, cavalo-cavalo, gaze-bruma, vestido de Verão.
Utente de invernos, verbalidade da incisão, Combate.


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Canzoada Assaltante