06/07/2009

Agora Todos de Almedina à Geria

© Sandra Bernardo
Ida Viseu-Caramulo, 17 de Setembro de 2008




Casa, Souto, noite de 5 e manhã de 6 de Julho de 2009




Uma rua estrangeira tornada pátria pela chuva fina.
As luzes molhadas em transe, trânsito já escasso de fim de dia.
Isto é amanhã, num inverno nosso, dentro da atenção e do nome.
Isto é connosco em cada um numa rua dentro da atenção do inverno.

Dentro de cada um a pessoa que um eu m'olha de passagem.
Um ser estrangeiro com a idade corrida a vidro pelas montras.
Um trabalho feito a partir de dentro, com ossatura estelar.
Ser pobre devagar, além do trilho dourado das grandes marcas expostas.

Entre vivos gessos, agências bancárias pequenitas como mercearias.
Entre o sol de outros dias e a mesma lembrança em viagem sozinha.
Calidamente portador de um coração sem passaporte.
Avistador de cheiros de cozinha, barrigas de pernas, animais presos.

Ser o que a mãe sangrou para o mundo do pequeno comércio.
Um coleccionador de nomes de esquinas, de torrefacções de café.
Uma pessoa dentro do ofício, vinte unhas pessoais, um corta-unhas.
Um papel com números de telefone na carteira, uma fotografia antiga.

Ter nascido outra vez patriamente no mapa vivo da meteorologia.
Atenção às cores das saias das senhoras piedosas pela rua.
Atenção ao chinês velho das gravatas na Adelino Veiga.
Lembra-te (vê), era aqui o Carlos Camiseiro, aqui o Apolino velho.

Se amanhã chover, farás como ontem, como serás amanhã.
Sobe a Almedina, redescobre em torno as décadas, os musgos.
E em trânsito vivo, com bandeiras de hotel modesto.
O rio pátrio como a língua, além das ameias da cidade.

Agora outro em cada um, fala-se das festas de Verão.
Das bandas da Geria, cortando para S. Facundo, ossos e cal.
Homens escurecidos pela intempérie moram nos anos 30/XX.
Acordo-os, conheço-os, não tenho falado de outra coisa.

1 comentário:

yodleri disse...

"Ganda" poema, menino!!! E eu sou levado das cornucópias para satisfazer!!!
Espectáculo! Simplesmente fenomenal!...
Até me sinto ainda mais minúsculo nos meus "latidos".
Parabéns

Canzoada Assaltante