11
Pombal, entardenoitecer de 29 de Junho de 2009
Tem visões nem sempre turvadas pela emocionalidade.
A memória participa delas, mas não é delas o motor exclusivo. Julga que é um dom não forçosamente individual. O animal humano é uma cinemateca autoportátil. Pendura dentro quadros vivos. Individual – é como o vento diz as árvores internas.
Tem entrado mais para fora dos anos, também. Fala de uma espécie de essência marsupial da arte poética, no seu caso. Londres não ser a cidade, mas uma mitografia do XIX, patas de cavalos clocando a pedra, cancelas, humidade, luzes bruxuleadas que crescem a noite afinal apátrida. Um rincão ainda selvagem da infância, a natureza perfumada de ervas intensas, a pessoa-criança-vista-de-fora entrando-se perfumes, patas de cavalos, cloc-pedra-cloc, pátio ’inda. Já sabe algo do futuro: que há-de ser tudo lembrado em frente, hoje.
Autodocência e investigação só paráveis pela obliteração da morte (da paz física, da anihilação anímica).
Uma atenção dentro sem excesso de umbigo. O umbigo é banal. Toda a gente tem um. O filme é outro.
12
Pombal, entardenoitecer de 1 de Julho de 2009
Vejo daqui o monte por onde existi a par do vento.
Havia um cão comigo, em baixo ia a linha férrea, além os campos que o Inverno tomava de armas aquáticas.
Não me arrependo de ter sobrevivido.
Aprendi sem mestre a suportar a vasta e minuciosa beleza do mundo.
Disponho hoje de algumas chaves para a casa de toda a gente.
Trabalhei sem esforço para esta verdade.
Ele há prova – como ele há provação.
A cabeça é delicada e é limitada.
O mundo não é limitado nem delicado.
Ele é forte e é belo e indiferente.
O olhar atribui-lhe diferença: um menino e um cão num monte, ao vento.
E o homem na cidade aberta pelo rio, o céu do rio, as aves que abrem céu, rio e cidade e homem.
Estes elementos.
Colecciono leis elementares.
Vejo-as daqui.
Também as coisas nos vêem, acho.
A nossa silhueta angaria paredes.
As paredes silhuolham-nos, acho.
Sem comentários:
Enviar um comentário