Pombal, anoitecer e noite de 22 de Julho de 2009
Chove mas é Verão, a noite veio de águas como os infantes que rompem as mães para nascer.
Julho é comentado nos cafés por ser brando, nada parecido com o incêndio de outros anos, em outros cafés.
Estive a ver as águas batendo nas árvores da rua, nos candeeiros que as contam uma a uma pela noite.
Não, não parece Verão, antigamente o calendário não tinha ’inda sido rasgado pela poluição, eram mais naturais as coisas.
Viver acontece mais e mais fora do horário nobre, é certo, mas pode aproveitar-se a rua para fumar um cigarro à beira da chuva enquanto não chega o mês dos emigrantes, dos foguetes, do catolicismo pimba, das merdas patrionacionais do costume, pode uma pessoa dar-se a ler o Nemésio prefaciador de Merícia de Lemos e/ou comentador sucessivo de Supervielle e Valéry.
Uma pessoa pode muito no pouco que quer.
Para mim, uma carga de água dançada pelo vento chega-me bem para tesouro de uma noite, ao cabo de um dia calado.
Não está frio, é agradável circular pelos corredores sem tecto da cidade, agradável descobrir uma que outra rara silhueta procurando fugir do que chove e da poesia e da lucidez e da hora.
Bruscamente o Verão não é passado, vou na voz, farfalha a árvore farta de água, nada parecido com o incêndio de nascer.
1 comentário:
Hmmm, "há mau tempo no Pombal"...
diria, talvez, o tal Nemésio.
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