© Brunelleschi
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Pombal, tarde e entardenoitecer de 15 de Julho de 2009
Esta tarde estou aqui para ser feliz sem pressa.
Convivi com a poesia de Eugénio de Castro (Camafeus Romanos, 1921), ligação que me deu prazer e construção.
Também pude ouvir música, comer pêssegos, escrever para o semanário O Ribatejo, ver The Simpson, tomar um sol refrescado de brandíssimos favónios.
De madrugada li linhas e versos de António Duarte Bento e de João Camilo, estive vivo com calma, senti a serenidade qie decorre da desimportância.
Conversei um pouco com a minha filha Leonor.
Ao telefone, disse-me coisas dela, preciosas todas para mim - a começar por ela e a acabar nela.
Estou pronto.
Decorre a sessão de formação de formadores da formação (ena!) profissional - e eu estou pronto para aproveitar à mão tudo quanto à linguagem ocorrer.
Uma possibilidade é a construção de máquinas, como
a maravilhosa máquina (m. m.) de sobressaltar senhoras em aparato de bandeiras amarelas;
a m. m. de verificar bolsas de pus em frases rosissorridentes;
a m. m. de picotar pescoços com garfos de açúcar;
a m. m. de traduzir em telha verde franco-escocesa certo olhar azul a Sul;
a m. m. de fritar meninas-dos-olhos sem manómetro nem lobo temporal;
a m. m. de recortar celofanes fílmicos para exibições de feira-popular;
a m. m. de superar excessos de familiaridade e/ou de rancor;
a m. m. de avaliar produções oníricas com critérios dentados;
a m. m. de empalhar cegonhas em pleno voo nos meses de fevereiro a junho;
a m. m. de laquear menstruações oratórias em adros de igrejas;
a m. m. de testar arritmias à base de codornizes em polpa de pêssego;
a m. m. de despentear macacos glabros em pântanos;
a m. m. de aparar bebés vernícomos;
a m. m. de pingar lábaros de ouro a partir de orelhas sujas de sangue;
a m. m. de complexificar colunas de fumo em tornados de noticiário;
a m. m. de nortamericanizar a vida em verdadeiro-ou-falso, falso sobretudo;
a m. m. de alimentar bombeiros pelo nariz;
a m. m. que obriga tudo a ser o que puder um pouco antes de amanhã;
a m. m. de desenterrar mortos sem avisar nem as famílias nem as finanças;
a m. m. de topar optometristas numa multidão de final-da-Taça;
a m. m. de fazer amor sem conhecer ninguém;
a m. m. de distribuir carruagens metropolitanas pelos mais pobrezinhos;
a m. m. de redimensionar os avós à escala dos super-heróis da Mattel;
a m. m. de chamar clinteastwood-clinteastwood ao primeiro que se mexer;
a m. m. de grelhar peixes ainda não nascidos;
a m. m. de convencer os ciganos de que há mais música além da cigana;
a m. m. de apanhar em flagrante a alma de Eça de Queiroz em aparato de bandeiras amarelas;
a m. m. de ofuscar mapas com bicos-de-lacre importados do Cacém;
a m. m. de pulverizar adeptos da bola em estações de serviço;
a m. m. de coser insígnias de organdi a senhoras também de organdi como a Nini;
a m. m. de atribuir aos mortos as virtudes mais insuspeitas;
a m. m. de escrever versos por encomenda do Governo;
a m. m. de apostrofar moscas com vírgulas-altas e/ou guardanapos de chapa;
a m. m. de dar a conhecer a toda a gente a Mãe do nosso Melhor Amigo;
a m. m. de rechupar soro de gasolina sem baixar a mandíbula;
a m. m. de trocar a memória por uma caixa de gouaches;
a m. m. de envernizar técnicas psicomotoras para isto e para aquilo;
a m. m. de resistir à fadiga dos outros com uma insensibilidade monstruosa;
a m. m. de desgastar topógrafos divorciados que não venham nas páginas-amarelas;
a m. m. de pintar páginas-amarelas de outra cor;
a m. m. de re-unir os Beatles que ainda há para lhes dar canetas;
a m. m. de defecar em dois máquedónaldes ao mesmo tempo;
a m. m. de penalizar santos-de-ao-pé-da-porta;
a m. m. de impedir que as vizinhas parturientes dêem à luz vanessas e tatianas;
a m. m. de entrar em todo o lado sem convite nem necessidade;
a m. m. de causticar os corações mais hidroeléctricos;
a m. m. de juntar cem pessoas sem ter de lhes chamar nomes;
a m. m. de vender tapetes até a marroquinos;
a m. m. de atormentar ínsuas com recordações da infância;
a m. m. de reciclar botinas de calfe em bifes de papel de jornal;
a m. m. de aferir os pénis dos que nunca acertam nas naftalinas de urinol:
a m. m. de ensinar a cantar como Jussi Björling;
a m. m. de subjectivar as naturezas-mortas de um século futuro (um qualquer, se o houver);
a m. m. de taquigrafar baterias tocadas por manetas da Grande Guerra;
a m. m. de recolher restos de comida das dentaduras dos mortos;
a m. m. de irrigar com cidra reuniões as mais adustas de executivos de fábricas de mosaicos;
a m. m. de disparar peidos sem ser com a boca;
a m. m. de forrar ventríloquos com criadas-de-fora;
a m. m. de colar pelas costas os melhores momentos vividos na Bélgica;
a m. m. de recuperar ou António Duarte Bento ou Antonin Artaud para a realidade;
a m. m. de champselysear qualquer ruela de província;
a m. m. de comentar tudo sem resquício algum de imprecisão derivada da inconsciência;
a m. m. de calibrar a pus as moças tatianas e vanessas;
a m. m. de obliterar antigas cartas-de-condução sem aviso-de-recepção:
a m. m. de cooperar com as autoridades sem ter de abandonar a retrete;
a m. m. de filtrar ansiolíticos com um mosquiteiro todo cagado;
a m. m. de chupar com a cultura-geral dos completamente ignorantes;
a m. m. de evitar o mês em que vêm mais emigrantes de férias religioso-fogueteiras;
a m. m. de frequentar cursos de filoxera com final aproveitamento de míldio;
a m. m. de revisitar os Amigos de Alex numa paróquia-perto-de-si;
a m. m. de tender para a estupidez urbi-et-orbi;
a m. m. de desfraldar criancinhas nórdicas dadas à metadona;
a m. m. de confiscar cerejas a grávidas judias que não gostem de canja de galinha;
a m. m. de espremer cítaras com Limpa-Metais-Coração;
a m. m. de manifestar interesse em cerimónias etíopes;
a m. m. de tossir em velórios lusitanos;
a m. m. de traduzir emoções em tremoços;
a m. m. de formar estivadores com apetências estruturalistas;
a m. m. de apanhar Salman Rushdie quando não chove;
a m. m. de trazer nêsperas de Barcelos sem ser na barriga;
a m. m. de copiar as defesas completas do Sporting entre 1963 e 1978;
a m. m. de raspar caravelas com um x-acto de marfim;
a m. m. de agredir ideias à saída de Tondela-Molelos;
a m. m. de estripar outra vez as putas mais pobres de Whitechapel;
a m. m. de polir unhas de pés com bastões-chilenos-de-11-9-1973;
a m. m. de arranjar pretextos poliglotas para dormir com alguém mudo;
a m. m. de obter livres-trânsitos para feiras internacionais de hermenêutica;
a m. m. de ganhar vantagem com a simples repressão de um dedo;
a m. m. de lançar dados quando a fortuna ajuda;
a m. m. de perguntar onde é o Lidl a meio de uma regata fluvial;
a m. m. de aceder ao segredo-dos-deuses numa campina agnóstica até aos dentes;
a m. m. de arrulhar amarelos como os canários mais icterícios;
a m. m. de evitar mísseis intercontinentais sem ter de abandonar a retrete;
a m. m. de ensinar Guerra Junqueiro ao Jack Nicholson e à Nicole Kidman;
a m. m. de arrancar louvores póstumos aos mitterrands de serviço à Pátria;
a m. m. de deixar o sentido da vida em paz para sempre;
a m. m. de jogar às escondidas com o Stevie Wonder;
a m. m. de instruir dálmatas na condução de catrapilos;
a m. m. de orizicultivar plantações de esparguete;
a m. m. de decidir ao contrário do que era inesperado;
a m. m. de reproduzir a extenso a brevidade da existência;
a m. m. de pulverizar mosquitos em Trancoso;
a m. m. de trigonomedir alucinações de raiz psicotrópica;
a m. m. de resumir travessias do Canal da Mancha em linguagem gestual;
a m. m. de capacitar um normando da imprescindibilidade do litoral;
a m. m. de rebentar aloquetes com a ponta da língua;
a m. m. de pintar postos de turismo com licor-de-café;
a m. m. de aludir sem ser sexualmente à potestade da Rainha;
a m. m. de eucaliptar o caminho de regresso a casa dos bêbados;
a m. m. de impingir cachecóis do Belenenses a pessoas do Fundão;
a m. m. de reflectir ecos do Joselito em películas do Cantinflas;
a m. m. de enumerar cebolas mesmo que chovam prospectos de espíritas afro-brasileiros;
a m. m. de trazer o Nick Cave à baila a todo o custo;
a m. m. de desflorar ostras em cumes eólicos de todos;
a m. m. de trocar uma ida ao circo por uma oportunidade perdida;
a m. m. de amestrar babuínos na colonização de Nova Amesterdão
e
a m. m. de sermos todos felizes em tão pouco quão tudo isto.
1 comentário:
Eheheh...
Eu também fiz uma formação de formadores na área da animação cultural paga pelo FAOJ e no fim, apesar das carências existentes em Coimbra e arredores nessa área, o FAOJ, quiz que eu fosse fazer marketing ao cartão jovem, congelando assim to da minha aprendizagem que efectuara em pequenos cursos em Lisboa, Tomar, Porto, Braga, Leiria... (Sempre pago pelo FAOJ)...
Enfim, foi outra m.m., uma de andar a distribuir pirulitos a diabéticos para combater o acúcar no sangue.
Cumps
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