Souto, Casa, noite de 14 de Julho de 2009
Nada posso fazer já por Eugene Weidmann.
Nunca pude, não poderia nunca fazer o que fosse por Eugene Weidmann.
Nem por ele, setenta anos depois dele guilhotinado em Paris, nem por qualquer dos muitos decapitados vivos da ex-Jugoslávia da década última do último século.
Quando às vezes penso na minha vida, esclarece-se-me sem peias o quão nada posso fazer pela morte senão deixá-la ser pelos caminhos um lobo magro, ávido, perdido de amor por todos nós.
Se me recordo, é com a língua.
Se, mesmo não olhando, vejo, é com a língua.
Não posso andar aqui pela vida a ser estúpido como um texano, posso mas não devo andar aqui pela vida a ser estúpido como um texano.
Também não hei-de ir a Vukovar, sítio onde talvez em tempos tenha havido uma paz matraqueada de escolas de dactilografia, como as havia no meu tempo, em Coimbra, em frente à Império, por exemplo, perto da Estação Nova e do Café Angola.
Sempre ter sabido o que não queria nem por isso me propiciou querer bem ao que desejava.
Meia dúzia de nomes - e meia dúzia de sítios cada vez mais interiores na cabeça.
A Europa, claro, é feita também de alemães com meias dentro de sandálias longas e largas como cargueiros, e de rapazes holandeses sentados no chão com violas e raparigas, e de portugueses que foram daqui erguer paredes e abrir valetas.
O Texas é diferente, suponho que preferem a cadeira eléctrica ou a injecção letal à guilhotina libertária e a Mozart.
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