Pombal, tarde de 11 e manhã de 12 de Março de 2009
Temos hoje para viver o dia.
A luz é clara como um caderno novo.
As pessoas estão em glória, mesmo que a não sintam.
Temos hoje para viver o dia.
Vi dois pinheiros, um cedro, outro pinheiro.
Resplandeciam. Reverberavam.
Airosos, aéreos, feitos de graça e louvor.
Azul mais azul por causa daquele verde.
Lavadores de almas, tais seres.
Agradeci-lhes com um aceno mental, passei.
Temos hoje para viver o dia.
Ao termo da ponte, tive pena do rio.
É de águas sujas.
Estas águas não sabem cantar.
Estas águas não podem cantar.
Todo o dia
(temos hoje para viver o dia)
tentam lavar-se mas não o alcançam.
Temos hoje para viver o dia.
Dá para trazer o casaco no braço, para receber a brisa
na cara barbeada de fresco, aspergida à palmada
de loção aromática, para cirandar pelos panos
de pedra guardada à sombra, para investigar
a glória trágica das pessoas que se vê passar pensando,
pensando muito
suas contas, seus rosários,
suas pontas, seus calvários.
Temos hoje para viver o dia.
Dois vidros azuis: naquele rosto branco poalhado de rosa e carmim.
Cabelo fino e farto, como uma palha muito madura e muito viva.
Ancas subidas como cabides, pés de robusta finura delicada.
Mãos longas atirando dedos, em torno de que faíscam anéis.
Alimentada a talos de alface e a polpa de cenoura,
é um animal bonito como um pinheiro, de que imita
a altura e a dignidade
azul mais azul.
Temos hoje para viver o dia.
1 comentário:
e temos também amanhã, caro daniel. para viver. e depois... um beijo e bom fim de semana.
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