07/03/2009

Habitação e Povoamento de Pombal - 7

7

Noite de 9 de Fevereiro de 2009

O tempo vinga sozinhas as pessoas. Rua dos Bombeiros Voluntários de Pombal. Circunscrição e redor. Serra baixa. Cozedura e coração. Gente que procura sopa para levar para casa em embalagens de plástico. Gente só. Gente só gente.
Estou atento às miríades, à pressão do cristal de cima. Estou provavelmente no auge da arte que me coube. Estou em Pombal. A tinta flúi, idiomatizante, rosto escuro no claro instante. Deitada, cada existência galvaniza seus pontos erógeno-turísticos. A vida do foder pelo foder: turva, capciosa imitação do amor em canções.
Deitei a vida barco afora, mar adentro: devo tê-lo feito sem pensar alheiamente. Era uma vez um menino como todos os meninos. Então, no século seguinte, despeço-me de Rilke, deixo-o morrer ao cabo de 1926 (29 de Dezembro).
Tirei fotografias frias por estas ruas sem calor. Andei sozinho por elas, reverifiquei a insensatez humana do comércio, concedi-me versos de passagem, lavei os olhos a frio, suturei de lã o cabelo finíssimo. Eu fui, já estava, voltei.
Em Pombal, as ruas da segunda-noite-feira molham os olhos. Uma escuridão balança alta, funda. Os versos tornam-se inevitáveis – podem ser uma doença, podem ser.
Grande é a formosura da língua que atravessa a pessoa. E
E as crianças que me morreram em criança! A filha do senhor Veríssimo, morta de coração interrupto; de três do senhor Morais, dois: a menina e o menino, sobreviveu só o Chico; não sei quantos da família dos Cucos; a irmã do Augusto do Bairro; o irmão do Victor Detective – tanta permilagem na minha saúde inverosímil.

1 comentário:

Anónimo disse...

«A beleza é difícil»

«O luto por uma criança morta nunca acaba»

Canzoada Assaltante