PARNADA IDEMUNO - 334 a 338

© DA.

334

Sexta-feira,

7 de Maio de 2021

    Desconfio dos “salvadores”

    dos nepaleses de Odemira:

    Há quanto tempo, meus senhores,

    sabíeis V. de tal mafiosaria?

    Vivo irremediavelmente. Espelho de V., tirando o sítio onde a verruga, o dente em falta, a cã/reca, a farmácia-nenhuma para este tipo de mal. Com & em justiça andou & esteve Herman José, referindo-se a Vasco Santana: “Não lhe chegamos aos calcanhares.” Em & com justiça estou & ando, referindo-me a António Osório: “Não lhe chego à Arrábida.”

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    Não foi decerto reles a colheita publicitária que a Administração da Brotéria – Revista Contemporânea de Cultura terá segado em sua/dela edição de Fevereiro de 1953 (vol. LVI, Fasc. 2, Lisboa). Digo-o porque me pertence um exemplar, que em boa-hora adquiri por dez-réis de mal, perdão, mel-coado. Mais digo: procedi a tal aquisição em um armazém de velharias desta também velha Cidade na tarde de terça-feira, 13 de Abril do corrente Parnada Idemuno. Folhas cor-de-rosa exibem em separata os beneméritos anunciadores. Os artigos da revista vêm em sépia, tal a bílis equívoca. Siga-se, em itálicas aspas, o compósito poemático que de tal rosa urdi:

“A Companhia de Seguros Fidelidade tem o prazer

De informar que melhorou e completou

O seu já conhecido Seguro do Clero

Os Grandes Mestres da Pintura

E notas históricas dos Museus a que pertencem

As mais modernas e centrais

Barricas – Sacos de Juta – Sacos de Papel

Empregando Três Fornos Rotativos Metálicos

Para chapéus de homem e Senhora

Decalcomanias (transferes) a quente

De pêlo, lã merino e feltro

De explosão e soldadura autogénio

De Luxo para Homens, Senhoras e Crianças

Da mesma qualidade são muito mais caros

Em relação a estas águas portuguesas

E na sífilis como poderoso auxiliar do tratamento mercurial

Pancada, Morais, Força Motriz & Tipografia

A fineza de mencionarem topográficos e geodésicos

Terços, medalhas, crucifixos, voltas eclesiásticas

48 cm.³ de cilindrada

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Grande rendimento, pequeno consumo

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Tinta permanente de diversos Seminários

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Os pedidos podem ser dirigidos a

CONFIANÇA

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Sabonetes

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Diamantes de Angola

Ao Sol ou à Sombra

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Cem anos!

Critério

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No combate aos parasitas

Santa Casa

Lubrificante de Reputação Mundial

Grande sortimento de respostas concisas

ATENÇÃO

Oferecemos os nossos serviços

Fineza de mencionarem a «Brotéria»

A construir para funcionar

Apostolado da Imprensa

Segurança de doutrina

Velas de cêra

Relógios das melhores reparações garantidas

Au Sacré Coeur

Ao Arco da Bandeira

Colocação de capitais dos seus administrados

Aqui

Vinho para Missas

Cuidadosamente preparado

Conforme as normas canónicas e

Com a aprovação de S. Ex.ª Rev.mª

O Senhor Bispo do Porto

Todos os bons

Do País

E

Do Açúcar de Angola

Cuidado com as imitações!

Cruz, Sousa & Barbosa, Ld.ª

Oficinas privativas na Rua

Da Companhia de Jesus

Do Porto Médico

Escrupulosa execução de

103 anos de existência

Volumes de 250 a 300 págs.

Secções de camisaria

Iluminuras (contos)

Trajectórias (poesias)."

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Saí hoje à minha Coimbra a buscar livros.

Quatro trouxe para casa, quatro antigos.

Uma pessoa vive de pão; e de amigos

(em caso de estes em vida estarem vivos).

Dúvida nenhuma sobre que revisitação

faço a quem meu chamo (mas pertenço).

(...)

Escrevo isto sozinho como cão que escrever soubesse.

Não espero notícias, não dou novas, quem-tem-farelos?

Moreno em criança, sou desses velhos amarelos

de que eu te mais diria, mas não digo – esquece.

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Sábado,

8 de Maio de 2021

    Às oito horas da manhã de, faz hoje, 57 anos, saí eu fumegante da minha santa Mãe, contrariado & arrancado a fórceps, ferramenta que me abriu um belo lanho na cabeçorra. Nasci com mais de dez meses de gestação, túrgido como um bácoro & como um varrasco pesando mais de cinco quilos. Saí, não – tiraram-me: desde então, jamais conheci melhor sítio onde viver, pela curial razão de não haver no mundo mais doce & mais marsupial abrigo do que a Mãe-por-dentro.

    O Tempo envelhece-me sem me pedir licença nem me avisar de véspera. Algo parecido V. sucederá, verdade? Verdade.

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Domingo,

9 de Maio de 2021

Vi hoje a minha Cidade caminhando-a no vazio, qual funâmbulo.

Foi depois de tomar café com a minha Leonor.

Caminhei bastante pela finitarde de Maio.

Não levava pressa, ninguém olhava, poucos autocarros.

Há certo esplendor no dia desértico chamado domingo.

Acho que vão construir ali onde foi a LUSA da borracha.

Vi lá material de estaleiro, decerto vão.

Não vi mais coisas, recolhi-me cedo.

Olhar, olhei – mas nem sempre se vê muito.

Há dias assim, mais poeira ao vento.

Li umas coisas sobre & de Joaquim Paço d’Arcos (1908-1979).

Lá fora, a variação meteorológica era interessante.

Deve ter chovido alguma coisa, não fui à marquise.

Apreciei em filme(s) reconstituições dos 40 & 50/XX.

Ambos os cenários pertenciam à ilha britânica.

Os actores sabiam o que faziam, sabiam-no bem.

Os enredos eram de qualidade fina, bem tecidos.

Entretive-me com proveito, pensando pouco.

Numa das cenas, mar à contraluz da tela.

Noutra, lápides sem datas legíveis.

Mobiliário, vestuário, tudo sem mácula.

As histórias versavam traves-mestras do edifício humano:

Coragem, Decência, Esperança, Malevolência, Sacrifício.

E não só – mas estes substantivos dão a ideia.

Ainda na Cidade, tirara algumas fotografias.

Não apreciei ainda como ficaram as ditas.

Cores foram dando de si na máquina-de-imagens.

Umas, sem caligem alguma, gloriavam o Outono.

A bicicleta encarnada de um rapazito: como eu fui & uma que tive.

Folhas de um ouro vegetal aspergidas em relvado.

Belas demãos de azul, verde, salmão, grená.

Vi a palavra aticismo, que é elegância/pureza de estilo.

Vi gilvaz, que é golpe ou cicatriz de golpe na cara.

Vi caligem – nevoeiro denso, escuridão, névoa ocular, catarata.

Não fui infeliz, portanto, algumas gemas garimpei.