© DA.
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Maio – o meu mês – começou ontem. Quatro meses integralmente volvidos. Há pouco, lidando na cozinha, fui atraído à marquise: era a luz, era o Sol ter-se volvido descomunal bonina – ou girassol de Si-Mesmo. Vi, nitidamente vi, na paisagem, as cinzas dos quatro meses consumidos & consumados até anteontem. Pensei fazer (fá-lo-ei de seguida) uma costura de 310 linhas a cuja criação procedi de Janeiro a Abril no corrente Parnada Idemuno. Seja:
ainda se lembra
em sonhos também
como outros fizeram
tempo, mais que tudo
perpétua maravilha
as mãos da minha materAvó
da mesma pessoa
quem não lembra
alguma dela é de minha
escola, a normal
não sei
às vezes, ruminante
imitar
aprender
resistindo a morrer
hoje
de estirpe invernal
sequências límpidas
o esplendor da lixeira
todos os dias
por mãos melhores
em litografia italiana
pela norma deste tempo
os números vêm aos gritos
velho suportando inclemências
sereno senhor, pontual
às vezes acontece
hoje sem esposa por perto
recolher ao lar
isso sim
a estrela intermitente
das anotações mais recentes
por sua casa
o idioma da terra
de ouro, de prata
já noite cerrada
nas respectivas brumas
há a dizer o mesmo
la poésie a quelquefois
uma rapariga
não deixou nome
nunca conheci em pessoa
uma pessoa pode escutar
verdade seja dita
sendo de si o nome
inocente como este
isto por enquanto
primeira linha
o pior de tudo é ser
meu mesmo herdeiro
não é
o silêncio afinal
quando ainda funcionava
mercê de indiferenças sossegadas
várias vezes me ocorreu
uma velha ligação
certa acalmia, ao de leve
não carece de exclamação
sem gravidade & sem remédio
vai levando a sua
os papéis em perfeita ordem
que andam comigo
sem desmandos públicos
por enquanto
para ser o mais franco
já a sombra uniforme
prantou queixa na polícia
uma burocracia simples
algo possível ainda
quando luz sol
que o Senhor me não escusa
cá em baixo
a sofreguidão mecânica
a promessa mais segura
a invernal autoridade
o aspecto sensorial
mas que se dane
a poesia pensada
enquanto chove-não-chove
por algum tempo
nada nem ninguém
sendo o que se pensa
no que concerne ao moço
que atirado lhes tenham
sim, melancolizo-me
quanto a gajas, nihil
vivo sem vizinhos
divirto-me, enfim
sem Mãe
dez anos, hoje
se a lembrança me não falha
reverbera diamantes
a tratar entretanto
em sala-de-espera
isto sendo tudo
a que voltas dou
um belo cão sem dono
testemunha parcial
da atenção sensorial
do sono
resistia ao frio
a minha sombra mesma
em outro inverno
na noite de janeiro
a vida é par de dias
sem freios nem carris
estive a um triz
sobre o vazio
porém, tudo bem
a pureza ainda mora algures
quão livre
vivia então
quem sabe se
a bruma do entardenoitecer
fora desta casa
fugitiva era
falo-lhe ainda
sem ânsia ou desejo
já da beleza
fora
dessas linhas
que tudo levam
de inocentes, leves
fedem a mijo
vem, sim, à lembrança
uma saída feliz
ainda há caminhos
uma noite, à face do lume
não acusemos a sorte
o sol faz do mundo paleta
través o vazio regulamentado
malficiente o dia que o não
nunca quis deixar
há vinte anos
acabei saindo
tenho autocarro às seis
a fulminar o céu
de que é exemplo-mor
cão velho, quase cego
de cabo a rabo
por este andar
sim – mas
muitos anos antes
já tinha tudo emalado
não faço contas
o maná é diário
dá no mesmo
não sei quanto falta
também os rostos
como os dos focinhos dos porcos
tidos por santos
quanto possível
o panorama da infância
é fortuna
mesmo aos domingos
enfim
por um dia cinzento
é aqui possível
acesso á correspondência
não duvideis
não há quem entre
não é possível
agora o mais novo
vou hoje ver
como esperava
em outra dimensão
no próximo verão
é montado o drama
lá da conquista
a zona é pródiga
serena assaz
assaz concludente
do inverosímil mundo
das alturas rochosas
no mundo inexplicado
talvez outro entendimento
sobre qualquer outra coisa
é agora certo
que continua
isto foi dito
é inexacto o cotejo brusco
do tipo de literatura
que o atraía
só por duas vezes
o grau de pureza
ficou por dizer
não é real
não estou seguro
escondiam entre farrapos
para lá da mata alta
este arrastado domingo
na fonte dos passarinhos
conhecem apenas o momento
em paralela dimensão
quase nada-de-nada
sem pressa, cada hora
mansarda pintada a rosa
a 21 de Junho
uma imitação de céu
o teu tempo é teu
o resto é menos
ser por ela amado
uma casa caiada
o avesso da bondade
como agora se diz
daquela zona da cidade
sempre comigo
o manso quotidiano
no lar vizinho
em menos de dois meses
o futuro pertence a deus
sei o que digo & do que falo
antigamente, bastava-me bem
demorar mais horas
costumava ir
dar voltas por mim
duzentos metros a montante
pensando sem pressa nem ânsia
que é domingo todos os dias
fala do que sabe por experiência
autoridade furiosa dos elementos
veio a coimbra em 1957
só vem de nós próprios
tanto o mundo quanto o mundo
entre cada um & seu entendimento
ao de leve versámos assuntos
por estas bandas
mas também:
entre as alas de buxo
embora já menos
o mais era viver
vou prestando atenção
outros cenários nos atendem
no seu tempo privado
feneceu aos 36
a minha poesia
os sonhos
temos todos
do meu é que talvez
caia a noite
a essa pessoa
a usar como papagaio
sem resquício de mal
algumas letras brancas
quais círios errabundos
de acordo com as marés
quatro pessoas alinhavam
a liquidar dívidas
leio
tenho
canto
de três em três dias
palavra
desses anos
é sempre diversa
da colectividade
a bondade é
essa pessoa que
um rei procura
contigo na mente
e não
vez nenhuma
sei o mal
passado
enormes figuras
os pais, o marido
há aliás fotografia
neste livro
mais valor do que este
és também
de junho a maio
mas olha, tu foste
amarguras de ontem
não vão além da(s)
três em ponto da tarde
um pouco (da) tarde
natureza irremediável
parte da casa está habitável
agora onde estou
não faço construção
o que sei
corresponde
tenho a luz
seja onde for
vai passando
aqui perto
a simplicidade
mais pessoal
a passar com banda
de mui razoável qualidade
não por ser minha
pelo menos nesta página
com os anos, aprendi
à luz crua
elementos novos
passava já das quatro & ½ da tarde
a ânsia em que se anda
pouco falta para as vinte
só então sim
parado, de pé
assomos de franqueza
batem surdamente
antes de 2042
sem abrir a boca
virando-se na cama
pela finitarde.
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