Souto, Casa, tarde de 28 de Agosto de 2009
Aqui posso ser 'inda um pouco mais, o tempo
ajuda, máquina amarela urdindo as casas e as gaiolas,
as existências são pobres sob as estrelas, entre sinais
de trânsito e apartamentos à venda perante tísicos
jardins, quem deixou aqui este resto de catrapilo?,
vou indo e levando e trazendo, o pequeno comércio
anseia pelo futuro como as criadinhas-de-servir
antigamente por magalas e farfalhudos gendarmes de giro,
levo 'inda quanta sombra posso ao pó dos caminhos,
nunca uma simples mata me deixou de ser maravilhosa,
uma rosa é 'inda o meu incêndio nuclear favorito,
juntando vou devagar os meus despojos, uma chávena,
uma caixa de fósforos, uma colecção de cromos, um jeito
por assim dizer vocação para fixar a doçura inútil
dos sonhos acordados como cães acorrentados a bidões,
meia-dúzia de palavras mais e estou feito, um cão
aumenta a tarde passando sua magistratura castanha,
frequento odes e elegias como outros senhores as putas
e as vereações, firmo a minha alegria furiosamente,
já vi lagoas e caleches e gente só ante cais de madeira,
pura pedra assenta a criança admoestada pela poesia,
um dia será de novo dia de pão de cinza, de rosas
de mármore, muitos anjos acorrerão ao sal dos olhos
para ser tule e gaze e popelina e terileno,
a criança subirá a chuva convocatória em ominoso monte,
vale dentro do pensamento a liberdade invencível, aqui,
na casa amarela atirada às estrelas pela força da luz,
castanho passa o senhor cão, as lojas fecham às sete,
então calamo-nos todos um pouco imitando o cais,
à excepção da água que canta nos canos o rio preso.
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