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Seis, Sete e Oito do Oito do Nove
Souto, Casa, 6, 7 e 8 de Agosto de 2009
Racine County, Milwaukee, algures num filme.
A aurora estende relvados suburbanos.
Primeiros acordados, hirtos de frio pelas ruas, vão comer qualquer coisa, engolir duas canecas de café, desfazer tempo até picarem o ponto nas fábricas.
Passa vagaroso o carro-de-água que ejacula pressão contra os lixos limpos do Outono.
Fort Pastor.
Homens de pele castanha, homens e mulheres de pele pálida.
Uma grávida medindo o mundo em passinhos.
Certa delícia: a frialdade do vento.
Casais, Penafiel, Setembro de 1896, António Nobre recupera (ilusão) da tísica que o matará (não é ilusão),
Guilherme de Castilho caracteriza a hospedaria das irmãs Andrade:
“É uma pensão modesta mas impecavelmente asseada, deste asseio escrupuloso que ainda se mantém em certas casas da província portuguesa, feito de roupas alvas e cheirosas a alecrim ou alfazema, de soalhos carcomidos mas rebrilhantes, de aroma a maçãs camoesas espalhado por todos os aposentos.”
Perfumada prosa, ela também, que depois mostra Nobre ante os túmulos de Antero, nos Açores, e de E. A. Poe, em Baltimore, colhendo folhas nascidas dos mortos para oferecer em cartas.
Dias 6 e 7 e 8 do mês 8 do ano 9.
Faz 31 anos que Ruy Belo morreu.
Termino a leitura de Vida e Obra de António Nobre, de Guilherme de Castilho (Bertrand, Lx., 3ª ed., 1979/80).
Coitado do Nobre – a tuberculose fê-lo sofrer horrores.
Morreu criança como Cristo, aos 33 anos de idade, não chegou aliás a tantos, sequer, por cinco meses.
Tomo nota de ideias/versos a desenvolver, não sei se nem quando:
Dá-se à luz do mar a linha muito pura,
barcos voam ao que aves vão buscar (…)
Través os dias, entanto, nomes e coisas engendram os instantes dentro (e a mera enumeração resulta versejante qual poema):
Liebknecht
Rosa Luxemburgo
Spartak!
Theodore Roosevelt
Madame Curie
(Criar uma Villedeau)
Epson
Auteil
Albion
Sufragistas
Acrobacias aéreas
Belle Époque
Filomena Moretti
1918 / 1919, Sidónio, Tamagnini Barbosa
Alferes Botelho Moniz
Portugal
Governamentais contra rebeldes monárquicos
(a merda dos fadisto-marialvas, já então como agora)
Tenente-Coronel Vieira da Rocha
Capitão Júlio de Cerqueira (da Marinha)
Moniz Barreto (com Nobre em Paris, antes, 1895, por aí)
Álvaro de Castro
Santarém, 1919 também
Egas Moniz, peça de Jaime Cortesão
O Professor Egas Moniz representa Portugal na Conferência da Paz pós- Primeira Guerra Mundial
Insurreição (os 25 Dias) dos esbirros monárquicos (Monsanto, Norte &c.)
Coronel Mineiro de Almeida e alistamento de civis pró-República (como o Batalhão Académico de Defesa da República de Coimbra)
Júlio da Costa Pinto
Aires de Ornelas
João de Azevedo Coutinho
(estes três, presos por rebeldes em Monsanto)
No Porto, “restauração” da Monarquia Portuguesa
Junta Governativa do Reino de Portugal
“Presidente”, Paiva Couceiro
“Ministro dos Negócios Estrangeiros”, Luiz de Magalhães
“Ministro das Obras Públicas”, Coronel Silva Ramos
“Ministro do Interior”, Sollari Allegro
Corpo de Polícia de Defesa e Vigilância da Monarquia – “Os Trauliteiros”
Sá Guimarães, Comandante da Coluna-Relâmpago
Em Viana do Castelo, “restauração” da Monarquia também
Viseu, é Administrador o Cavaleiro José Casimiro
Aveiro, centro operacional militar dos “reizinhos”
2 de Fevereiro de 1919, manifestação pró-República em Lisboa
Chefe de Governo, José Relvas
Novo Ministro do Trabalho, Augusto Dias da Silva
Combates violentos em Mirandela
Teatro 1º de Maio, QG monárquico
General Abel Hipólito a cargo de uma coluna republicana
Comandante Supremo da carga verde-rubra, General Costa Ilharco
Em Aveiro, os azuis-brancos incluem Bento de Almeida Garrett, do Real Grupo de Trauliteiros, capturado pelo Alferes Roby
Assaltada e destruída a sede do Clube de Fenianos do Porto
Morre Jorge Camacho, monárquico, assassinado no Terreiro do Paço apesar da escolta que levava
Estarreja é objectivo militar dos governamentais
Ministro da Justiça, Couceiro da Costa, que visita as linhas triunfantes do palco de operações anti-monárquicas
Coronel Djalme de Azevedo
Capitão Schiappa de Carvalho
(ambos republicanos)
O “célebre” Padre Domingos Pereira, subversivo cadastrado, é preso
É preso o Conde de Mangualde, que por os 25 dias foi “Governador Civil” da Invicta (afinal victa…)
Silves e Ponte de Lima festejam os sucessos republicanos
Café Camões (no Funchal?)
Presidente da República, Canto e Castro
21 de Fevereiro de 1919, comício no Coliseu dos Recreios com sequelas trágicas (tiroteios pela cidade, 6-mortos-6 e 40-feridos-40, pelo menos)
População vive o “TERROR DAS BALAS PERDIDAS”
25 de Outubro de 1918, morre Amadeo de Souza-Cardoso, Pintor, em Espinho, vítima da “Pneumónica” (“Gripe Espanhola”)
Margaret Rutherford, Actriz, morre de Alzheimer aos 22 de Maio de 1972, deixando viúvo Stringer Davis, que morre em Agosto do ano seguinte
Madalyn Murray O’Hair, da associação American Atheists, assassinada (juntamente com um filho e uma neta) aos 29 de Setembro de 1995
Dá-se à luz do mar a linha muito pura,
barcos voam ao que aves vão buscar (…)
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