10/08/2009

Soneto para Gostarem de Nós

Souto, Pombal, noite de 9 de Agosto de 2009



Faz-nos diferença sermos tão quase iguais em tudo,
na morte aliás garantida como na desprometida vida.
E no entanto somos ou fomos belos animais crepusculares todos,
por aqui às voltas com o assunto de ontem, hoje e anteontem.

Nenhuns somos más pessoas, até por sermos da rua
onde param o autocarro e a própria sozinha Lua.
Nossa é a certidão melancólica, nosso o faqueiro de prata,
como nosso é o segredo íntimo quase nem sonhado.

Em cozinhas de má luz e maior humildade,
as nossas infâncias para isto prosperaram: a caber
num soneto, numa troca de palavras oficiosas em funerais,

entre os varais públicos que cifram as ruas, as noites,
os meses de comer pouco e pensar muito, mormente quando
o crepúsculo se torna um modo de vida, aliás amável.

1 comentário:

Manuel da Mata disse...

"Faz-nos diferença sermos tão quase iguais em tudo,"

Nomeadamente ter a vida tão "desprometida", que o ser "crepuscular", já quase não me faz mossa.

Gostei.

Canzoada Assaltante