VII
Arrebanham-se
muitos a deus fáceis.
Muito
poucos esperam ainda, na praia, Ulisses:
Argos
é talvez o único que a verdade adentra.
De
Dom Sebastião à Senhora de Fátima, resto-zero.
O
desconcerto das nações é metabólico-basal-comum.
Quem
pode, a recanto abrigado se recolhe & cala.
Séculos
de escravidão trocados por uma eucaristia.
(Quem
diz trocados, diz reiterados.)
Milénios
de sujeição processionando velas à Boneca.
O
próprio Idioma é metodicamente conspurcado.
Sumidades-luminárias
doutrinam a ovelha-bípede.
E
no entanto
VIII
Há
inda’ quem respire livre qual rosa-ao-vento.
(O
verso anterior não carece de deferimento notarial.)
Indicações
preciosas abundam d’infinda uberdade
–
pistas livrescas, veredas de pereiras-de-inverno,
molduras
desempoeiradas sorrindo rostos atemporais,
Glória,
senhora do quintal, em seu cadeirão de vime,
Feliciano,
contente biciclista & pescador fluvial,
João
Magno, nosso campeão fruticultor,
cartas
daquele tempo em que ainda à mão s’escrevia,
sim,
tal como voltar a casa & ser a gente nela a Casa.
IX
Mas
agora isto:
Ser-me-ia
pelo menos tao fácil enganar-Vos com imagens falsas quão iludir-vos com
verdadeiras. Estas, a que o mundo chama reais (por a nossa Língua com/fundir
realidade com realeza), não são menos enganosas. Se não erro, Camões
é magno arquétipo desta acepção/asserção. Outros há – e não poucos. Pessoa,
claro. O vocábulo sonho em contexto-Raul-Brandão. O axioma saudade
em estrito & restrito âmbito-Teixeira-de-Pascoaes. A palavra palavra à-Ruy-Belo.
A
galeria é imensa. Autor que vive para além da morte física, vive por tê-la –
precisamente – enganado. Deu-lhe o corpo, mas ficou com o trunfo, digo, o
triunfo da ilusão. Prestidigitou. Houdiniou.
Julgo
não me enganar – não, ao menos, neste aspecto da Coisa.
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