(V)
(18h21m.
Dia no papo. Também do papo, mandei recado certo a incertos destinatários. Fica
mandado & desobrigado. Adiante.)
VI
Continua
a infantofagia jornaleira do caso da Atouguia da Baleia, o da menina Valentina
assassinada pelo progenitor com a conivência da madrasta. Festa tristíssima,
circo-mirone. Nem pudor nem recato.
Arquidiocese
de Braga, fumos de abusos sexuais de perpetração clerical. Insondáveis são os
caminhos do Senhor.
VII
Gente
ligada à terra, assisto à lide lídima dela.
Algumas
vezes, sonho-a de olhos abertos.
É
nítida a articulação telúrica da nossa passagem.
No
caso do trigo, o ouro ferve em crisol a céu-aberto.
Um
faval comove-me tanto quanto Van Gogh.
O
comboio Coimbra-Figueira sulca os campos.
Ar,
água, céu, terra – até que se faz mar a vida.
O
olhar do viajante vai lavourando livre tal a ave.
O
vento arrepia os olhos-de-água: olhos-de-mãe.
O
nome de cada um, fundo, mantém-se raiz própria.
Inumerável
gente, grã grei do grão, portuguesa.
Conhece
as fontes, ergue madeira tombada.
Inominável
euforia da colheita, paciência do semeador.
Arvoredo
de beira-vala comunga ventanias mansas.
Sol
que parece jamais voltar-se noite.
Quê?
Idílico, eu? Bucólico, eu? Ingénuo, eu?
Desterrado
a falar de terra, eu? Por meu nome, não.
Cultivo
há décadas esta leira mesma.
Caderno
vale courela: o fruto cheira sim a sozinho:
é
verdade – mas mal não é por-aí-além, olha quem.
VIII
Se
identifico a sombra, digo-a à luz.
Se
a desconheço, temo-a: só assim a temo.
A
partir de certo dia, anoitece-se mais horas adentro.
Esse
certo-dia é mosaico estilhaçado.
Imagens-irmãs
da mais íntima auto’stranheza
–
nada porém que obste ao fugaz clarão da Beleza.
Em
cidade que não era Coimbra, andei a sul dias sem norte.
Fazia
de meu mesmo oriente, não perdi tudo.
Laurinda,
a de pescoço taurino, vendia peixe.
Olinda,
a de varizes como cordões, faz limpezas.
Anacleto
diz que tem um projecto.
Cristiano
diz-lhe que nem para o ano.
Claro
que é incontornável abeirar ou ser abeirado por gente reles.
Em
certa altura, há mimetismo até dessa relesia.
Cristandade
de belmiras & anselmos & tomés & donzílias.
Enquanto
há sopa, ele há famílias.
O
Arnaldo Bacalhau andou em Moçambique aos tiros.
Voltou
mordido-mórbido por dentro, não durou muito.
Cada
qual é sombra de si, nisso novidade nenhuma.
Assombrar
os outros parece ofício, ou fé, de muitos.
Poucos
trabalham no ramo da iluminação.
Lunescer,
lunesçam os sem-abrigo & os guardas-nocturnos.
Soalhar,
soalhe quem tenha a mania da poesia.
Calo
luz & sombr’adentro, pena & privilégio irmanados.
Sem comentários:
Enviar um comentário