IV
(...)
Vou
à marquise, banho-me d’ouro, à sombra volto.
O
Gato está a dormir o mais docemente.
Tem
expressão de criança-humana-gente.
Pena
não ter um quintal onde ande solto.
Reli
mais Nemésio, revi mais velhas fotografias.
Fiz
contas de cabeça, tirei restos-zeros.
O
futuro contará – ou não – uns tantos dias.
Euforias
já não – nem desesperos.
V
Natural
ventilação freme o arvoredo.
Manchas
arroxeadas ’qui-acolá.
O
mais é de um virente sossego.
Deus
não É – mas mundo, mundo Há.
(VI)
(Após
atempada ingestão de sopa calórica,
assossegou-se-me
de pronto certa propensão colérica
que
me vem minando instantes de quando em vez.
Bom
naco de chispe atulhado a couve
&
broa esmifrada em regalado azeite que houve
outrora nascimento em lagar português.)
VII
Bem
mais de meio-mundo me falta viajar,
sei
bem porém que a tanto não tão pouca vida
há-de
ser bastante. É de aguentar
a
permanência, não a ida.
À
vez, recordo em frente pequeninas disposições
compagináveis
talvez com o mais bem vivido.
Por
dentro, mandam as cerebrais circunvoluções;
por
fora o circo é triste – mas existe, tal malparido.
(Quê?
Não gostas de versos? Vai às putas,
far-te-ão
elas talvez recordar-te a mãe.
Chateia-te
a livralhada? Não te diz nada?
Putas
a vint’euros – c’o COVID talvez nem.)
(VIII)
(Protege-me
da desilusão o não ter eu ilusões.
É
minha, pré-podridão embora, a madurez.
Daí
que há pouco tenha versejado à mesquinhez.
Não,
nenhumas auto- ou heterodecepções.)
IX
Nomes
revolvo plenos de presença inefável.
Animais
conscientes, gente osseamente adormecida.
Alveja
ao cimo da serra o casario amável.
Habitável
nomenclatura que não quero desmentida.
Colmeias.
Sílabas. Cabrinhas. Ovelhinhas. Pedrarias.
Habitáculos.
Obstáculos. Rodapés. Josés. Marias.
Em
flor a giesta, sol na testa, fonte abundante.
Onde
era a dos Correias é agora um restaurante.
Mais
adiante, à beira-poço, ali ao valado,
um
de meus Amados Mortos pastoreia-se a si.
Conheço
tudo, do muito ter brincado
por
a futura lembrança q’hoje é aqui.
Pouco
amor resiste a tão obstinada mó.
Pouco
mas algum, enfim, que o resto é pó.
Joselito
& Marisol, na matinée do cinema:
que
bonito é o fascismo quand’em verso de poema!
À
Leitaria do Raul, rés ao Botânico,
vou
com um nome ao bom refresco.
É
meada a tarde, o ar é balsâmico:
e
tal nome era vivo, formoso & fresco.
Já
em cert’outra ocasião,
vejo-me
a sós na noite proscénia.
À
lapela prendi ’ma fina gardénia
que
viva palpita no meu coração.
(Sim,
é prosódica & prosaica esta versalhada.
Vale
ela o que valha. Algo-pouco-ou-nada.
Desimporta.
Contam os tais nomes inefáveis:
vivos
na morte, estremecidos, amados & amáveis.)
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