13/09/2020

VinteVinte - 50 (I a IV)


 

50.

 

EM PRUDÊNCIA VIGENTE

 

Coimbra, segunda-feira, 11 de Maio de 2020

 

 

     I


    Recebi & troquei, salvo erro ontem, algumas mensagens, por escrito, de & com pessoa de boa-criação que faz parte importante do meu pretérito há quase quatro décadas. As ditas mensagens, breves mas não lacónicas, instruíram-se sobre aragens, paragens, andamentos & paramentos de outras afins pessoas de inícios dos 80/XX. Manifestei a minha ignorância involuntária relativa ao hoje dessa gente de idêntica boa-criação. Fiquei grato pelas informações, que não requeri mas bem-vindei.

    II

    Choveu de noite, foi bom como sempre receber tal música elementar. Dispus-me em corpo-auditivo, não temi nem ousei. Desta sexta-feira natalícia passada que me dói a mão direita, a que escreve, aqui entre as almofadas na base da palma. Liguei a pata depois de untá-la com pomada talvez analgésica. Hoje, já segunda-feira, incomoda-me menos. Noto a idade neste micromoléstias: um mau-jeito no pescoço quando adormeço de modo torto, um ranger de portão-d’igreja nas rótulas joelhais, um marulhar gástrico esquisito que atribuo a não beber vinho desde o alvor de Março último. Sou feliz como os calhaus atirados para longe da obra, enfim. Vou muito à marquise. O trânsito automóvel está de volta, só podia, a economia não pode parar, nas últimas 24 horas houve nove óbitos devidos ao vírus-da-moda, um grão-d’areia se comparado com o que vai por espanhas, itálias, inglaterras, américas. O crime de Atouguia da Baleia faz as delícias tablóide-televisivas: infanticídio é manjar realengo. Ouvi um pouco de bela música, muito bela: Bill Evans primeiro, Fausto Bordalo Dias depois. A máquina-dos-sons funciona bem. Recebi a música sem esforço nem tristura nem desorientação nem nada. Li umas linhas francesas. Voguei, vagueei. Ontem, não fui ao lixo, acho eu, não se justificava, vou hoje, é a minha aventura diária, saco verde-escuro, mãos enluvadas a azul-borracha, a rua deserta das onze da noite, é uma aventura trepidante sob o Infinito Có(s)mico & de acordo com as prudências vigentes.

III

    Quase insuportável, a Beleza pintora da luz em a janela deste quarto virado a oeste, este a que presido todo sombra, esquecido quase do próprio nome, diminuindo mais & mais o recurso ao cigarro, que não ao verso prosódico. São ora as 19h32m, rói uma nuvem de cinérea massa o sol já fresco do entardenoitecer. É muito bonito, vão, total, sem-de-nós-necessidade-alguma. Ver(se)jo? Sei pouco. Hei nada. Mas a Hora – e, agora, o Gato que do Quarto me usurpa a Presidência.

(IV)

    (Nunca ceder. Ser. Nunca ceder.)

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Canzoada Assaltante